REFLORA

Projeto resgata DNA de árvores nativas para reflorestar áreas pós-enchente no RS

A meta inicial do Reflora é plantar mais de 6 mil mudas de 30 espécies florestais nativas, com base na genética resgatada

Fernando Dias/ Ascom Seapi
Fernando Dias/ Ascom Seapi

Em uma resposta inovadora às enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul, o projeto Reflora deu início, nesta quinta-feira (21), ao treinamento prático de resgate genético e enxertia de plantas nativas. A atividade foi realizada no Centro Estadual de Diagnóstico e Pesquisa Florestal (Ceflor), em Santa Maria, e reuniu 28 pesquisadores e técnicos. A iniciativa integra governo, universidades e setor privado para acelerar o reflorestamento e preservar a diversidade genética da flora nativa. A Serra Gaúcha também recebeu o projeto.

O foco do projeto é recuperar áreas devastadas, encurtando de 20 a 30 anos para até 8 anos o tempo de restauração ecológica. Para isso, os pesquisadores coletam galhos e ramos de árvores saudáveis, realizam enxertia (a fusão de tecidos entre plantas), induzem o florescimento precoce e preparam as mudas para reintrodução em áreas degradadas.

“Ao contrário da seleção de melhores exemplares, usada na produção de madeira, aqui o objetivo é ampliar a diversidade genética, tanto de mudas quanto de sementes”, explica Jackson Brilhante, coordenador do projeto pela Secretaria da Agricultura (Seapi).

Segundo ele, mais diversidade significa maior resiliência das florestas, com benefícios ecológicos e econômicos, como o desenvolvimento de pomares nativos e frutíferos em áreas reflorestadas.

DNA florestal sob controle rigoroso

Durante o treinamento, foram coletadas amostras de espécies como louro-pardo, cedro, ipê-roxo e cerejeira-do-mato. Cada amostra é catalogada com códigos de rastreabilidade pelas universidades parceiras e armazenada em condições controladas. A enxertia e o florescimento são realizados em viveiros. As mudas permanecem sob cuidado por cerca de seis meses até que estejam prontas para o plantio.

“Queremos evitar a coleta repetida de árvores semelhantes, o que pode causar endogamia — como primo casando com primo”, exemplifica Diego Balestrin, da Universidade Federal de Viçosa (UFV).

Ele lembra que o projeto tem raízes em uma ação criada após a tragédia ambiental de Brumadinho, em 2019, quando houve o risco de extinção de espécies florestais.

Reflora: União entre ciência, governo e empresas

O Reflora é coordenado pelas secretarias estaduais da Agricultura (Seapi) e do Meio Ambiente (Sema), com apoio da CMPC e da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). Participam ainda UFV, UFSM, Unisc, PUCRS e UFRGS.

Com investimento de R$ 5,21 milhões — sendo R$ 2,86 milhões da CMPC e R$ 2,34 milhões da Embrapii —, o projeto terá duração inicial de três anos. Os recursos vão financiar infraestrutura, insumos, serviços de campo e bolsas para pesquisadores.

“É um momento crucial. O Rio Grande do Sul ainda sente os efeitos dos eventos climáticos extremos. O Reflora traz inovação e forma novos profissionais, além de acelerar a restauração de ecossistemas”, destaca Jorge Antonio de Farias, professor da UFSM.

Mais de 6 mil mudas nativas previstas

Outro treinamento ocorreu no Centro Pró-Mata, em São Francisco de Paula. A meta inicial do Reflora é plantar mais de 6 mil mudas de 30 espécies florestais nativas, com base na genética resgatada. A ação se soma ao esforço de reconstrução ambiental do estado após os desastres climáticos.

“Temos 40 anos de experiência em viveiro florestal e acreditamos que esse projeto tem enorme potencial para gerar cadeias de sementes e recuperar áreas degradadas”, afirma Juarez Pedroso Filho, da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra).

O Reflora propõe um modelo inédito de restauração ambiental, com ciência de ponta e articulação entre o setor público, privado e acadêmico. A biodiversidade nativa do Rio Grande do Sul, ameaçada pelas enchentes, ganha assim uma nova chance de regeneração.