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Religiosidade moldou a vida nas colônias italianas da Serra Gaúcha

Historiador Gelson Leonardo Rech explica como a fé se tornou um elo social e cultural nas comunidades formadas por imigrantes italianos

Obras de construção da nova Igreja Nossa Senhora do Carmo, inaugurada em abril de 1950, ao lado da antiga de madeira. Criúva, Caxias do Sul, RS. Jun. 1945. Fotógrafo: não-identificado. 

Imagem: Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami - Caxias do Sul
Obras de construção da nova Igreja Nossa Senhora do Carmo, inaugurada em abril de 1950, ao lado da antiga de madeira. Criúva, Caxias do Sul, RS. Jun. 1945. Fotógrafo: não-identificado. Imagem: Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami - Caxias do Sul

Mais do que um traço de devoção, a religiosidade exerceu um papel de coesão e identidade entre os imigrantes italianos que se estabeleceram nas colônias da Serra Gaúcha. Segundo o historiador e professor Gelson Leonardo Rech, a fé funcionou como um ponto de união entre famílias e comunidades em meio às dificuldades da adaptação e da construção de uma nova vida no Sul do Brasil.

O sentido religioso ultrapassava o aspecto litúrgico.

“A religião, naquele contexto, não era apenas uma expressão espiritual, mas um elemento de sociabilidade e pertencimento. Ela organizava a comunidade e dava sentido à convivência coletiva” destaca o historiador.

Essa prática consolidou laços e contribuiu para a criação de uma estrutura comunitária sólida, que se manteve ao longo das gerações.

Imagem: Gelson Leonardo Rech/Divulgação UCS Play

As festas religiosas, missas e procissões não apenas fortaleciam a fé, mas também se tornavam pontos de encontro e de reafirmação dos valores compartilhados entre os colonos. Em torno dessas celebrações, a comunidade aproveitava para negociar, planejar ações coletivas e compartilhar informações e conhecimentos. As igrejas e capelas, nesse contexto, se transformaram em centros de convivência e desenvolvimento social e econômico das colônias.

Com o passar do tempo, a religiosidade assumiu novas formas, acompanhando as transformações culturais e sociais das comunidades descendentes. Embora as práticas tenham se modificado, o sentimento de pertencimento permanece. “Há uma herança emocional e simbólica que persiste, mesmo quando a vivência religiosa deixa de ser tão intensa quanto no passado”, avalia Rech.

Famílias Silvestre, Morano, Scopel e Lusa, construtoras da Capela São Pedro e São Paulo. Santa Lúcia do Piaí, Caxias do Sul, RS. Aprox. 1920. Fotógrafo: Hugo Neumann / Imagem: Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami – Caxias do Sul

Legado da Fé e da Comunidade

Compreender esse fenômeno é fundamental para entender a trajetória histórica das colônias italianas da Serra Gaúcha. A fé foi um dos pilares da formação cultural que deu origem a tradições, modos de vida e à própria organização social dessas regiões, marcadas pela cooperação e pelo senso comunitário.

“Quando falamos de religiosidade, falamos de uma linguagem coletiva que moldou comportamentos, costumes e até a forma como as pessoas se relacionam com o trabalho e com a família”, afirma o historiador.

Nesse sentido, a fé não se limitou à dimensão espiritual, mas ajudou a construir um senso de comunidade que resistiu ao tempo e às mudanças.