
Mais do que um traço de devoção, a religiosidade exerceu um papel de coesão e identidade entre os imigrantes italianos que se estabeleceram nas colônias da Serra Gaúcha. Segundo o historiador e professor Gelson Leonardo Rech, a fé funcionou como um ponto de união entre famílias e comunidades em meio às dificuldades da adaptação e da construção de uma nova vida no Sul do Brasil.
O sentido religioso ultrapassava o aspecto litúrgico.
“A religião, naquele contexto, não era apenas uma expressão espiritual, mas um elemento de sociabilidade e pertencimento. Ela organizava a comunidade e dava sentido à convivência coletiva” destaca o historiador.
Essa prática consolidou laços e contribuiu para a criação de uma estrutura comunitária sólida, que se manteve ao longo das gerações.

As festas religiosas, missas e procissões não apenas fortaleciam a fé, mas também se tornavam pontos de encontro e de reafirmação dos valores compartilhados entre os colonos. Em torno dessas celebrações, a comunidade aproveitava para negociar, planejar ações coletivas e compartilhar informações e conhecimentos. As igrejas e capelas, nesse contexto, se transformaram em centros de convivência e desenvolvimento social e econômico das colônias.
Com o passar do tempo, a religiosidade assumiu novas formas, acompanhando as transformações culturais e sociais das comunidades descendentes. Embora as práticas tenham se modificado, o sentimento de pertencimento permanece. “Há uma herança emocional e simbólica que persiste, mesmo quando a vivência religiosa deixa de ser tão intensa quanto no passado”, avalia Rech.

Legado da Fé e da Comunidade
Compreender esse fenômeno é fundamental para entender a trajetória histórica das colônias italianas da Serra Gaúcha. A fé foi um dos pilares da formação cultural que deu origem a tradições, modos de vida e à própria organização social dessas regiões, marcadas pela cooperação e pelo senso comunitário.
“Quando falamos de religiosidade, falamos de uma linguagem coletiva que moldou comportamentos, costumes e até a forma como as pessoas se relacionam com o trabalho e com a família”, afirma o historiador.
Nesse sentido, a fé não se limitou à dimensão espiritual, mas ajudou a construir um senso de comunidade que resistiu ao tempo e às mudanças.