A presença da mulher sempre foi um pilar essencial na construção da sociedade. Na Serra Gaúcha, esse papel ganhou ainda mais destaque durante a imigração italiana, que teve início em 1875. Nas famílias numerosas, a mãe representava a segurança e o equilíbrio do lar, sustentando a vida comunitária em meio a dificuldades. Esse traço cultural atravessou gerações e hoje se reflete no protagonismo feminino dentro das famílias e da sociedade.
O papel das mulheres nas primeiras colônias
Durante o processo de imigração, as mulheres assumiram funções decisivas para a sobrevivência. Enquanto os homens trabalhavam nas lavouras, cabia a elas administrar a casa, cuidar dos filhos e preservar as tradições. Segundo a pesquisadora Vânia Beatriz Merlotti Herédia, “as mães representavam a estabilidade do núcleo familiar, garantindo a transmissão de valores e a organização cotidiana que sustentava a comunidade”.
Foto: Álbum Recordação das Colônias – Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami – Escola de uma das colônias de imigração italiana na serra gaúcha (1885-1897)
Desde os primeiros dias da colonização, as dificuldades que os imigrantes italianos enfrentavam eram tão grandes que mulheres, crianças e homens precisavam contribuir no trabalho para garantir a sobrevivência. Nas colônias, era comum ver mutirões de parentes e vizinhos para abrir trilhas, desbravar matas e limpar lotes, tarefas em que todos participavam. Estudos apontam que as crianças ajudavam na roça, no cuidado com animais e no transporte de lenha, enquanto as mães dividiam seu tempo entre a casa, o campo e o comércio. Esse esforço coletivo permitiu que as famílias produzissem seu sustento mesmo em condições adversas, sem infraestrutura ou facilidades de acesso. Como ressalta Vânia Herédia, “era companhia, mãe, cuidava da roça, cuidava dos animais, cuidava da casa”.
Contribuição econômica além do lar
A participação feminina não se restringiu às tarefas domésticas. Muitas mulheres atuaram nas vinícolas, na produção de alimentos e no comércio, fortalecendo a base econômica das colônias. Esse trabalho silencioso, mas indispensável, consolidou o desenvolvimento da região. “É preciso reconhecer que sem a força feminina a trajetória da imigração italiana teria sido muito mais árdua”, reforça Vânia.
Um exemplo emblemático desse protagonismo é o de Gigia Bandera, imigrante que, no final do século XIX, aprendeu o ofício de funilaria e passou a administrar a oficina da família em Caxias do Sul. Seu trabalho foi decisivo para o sustento dos filhos e, ao mesmo tempo, abriu caminho para o surgimento da Metalúrgica Abramo Eberle, uma das mais importantes da região na época. O caso de Gigia mostra como a força das mulheres extrapolava o ambiente doméstico, conectando-se diretamente ao processo de industrialização e ao desenvolvimento econômico da Serra Gaúcha.
Mesmo com acesso limitado ao ensino formal, as mulheres foram as primeiras educadoras. Elas transmitiram a língua, os costumes e valores como disciplina e fé, fundamentais para a formação das novas gerações. A partir desse esforço, surgiram escolas comunitárias e um avanço educacional que marcou a história da Serra Gaúcha.
Mulheres no presente e no futuro da Serra Gaúcha
O legado das imigrantes italianas permanece vivo. As mulheres seguem cultivando valores herdados das primeiras gerações, mas agora ocupam também espaços de liderança social, política e empresarial. “As mulheres continuam a ser o alicerce da família, mas agora também ocupam posições de destaque, reafirmando sua importância para o desenvolvimento econômico e educativo da região”, destaca Vânia.