TRADIÇÃO

Galeto da Serra Gaúcha é símbolo afetivo e patrimônio imaterial

Mais que um prato típico, galeto com polenta representa fartura, identidade e a memória dos imigrantes italianos no Sul do Brasil

Foto: Google Gemini / Reprodução
Foto: Google Gemini / Reprodução

Sabe aquele feijão que só a nossa mãe sabe fazer? Ou o sabor e o aroma da sopa da vó? Inesquecíveis, não é mesmo? Alguns pratos atravessam gerações e se tornam parte das nossas memórias afetivas mais profundas.

A lembrança desses sabores é um traço cultural tão forte que muitos sociólogos afirmam: a gastronomia é um dos aspectos mais duradouros de uma cultura. E, quando pensamos na herança italiana na Serra Gaúcha, isso fica ainda mais evidente.

Foi assim que a polenta chegou por aqui, trazida pelos imigrantes italianos. Para a pesquisadora e escritora Rosana Pecini, ela tem um papel simbólico e prático importantíssimo:

“A polenta é o prato que não deixou ninguém passar fome, nem lá nem aqui. A polenta nunca deixou de sustentá-los.”

Mas, como a polenta não supria todos os nutrientes necessários, era preciso complementar. Rosana explica que, por instinto e tradição, o homem do meio rural é caçador, e, naturalmente, as aves entraram no cardápio. Assim, o galeto foi ganhando espaço, se aperfeiçoando e, com o tempo, conquistando status.

Uma experiência gastronômica completa

Quem mora na Serra Gaúcha, ou já passou por aqui, sabe: o galeto vai muito além da ave assada com maestria. Sentar-se em uma galeteria é mergulhar numa experiência gastronômica completa e farta. Tem pão, sopa de agnoline, salada de radicci com toucinho torrado, salada de batata, espaguete ao molho de miúdos, polenta frita e, claro, galeto. Quando as travessas começam a esvaziar, lá vem o garçom com tudo de novo, fumegando. Para finalizar, sagu com creme ou pudim de leite. Uma verdadeira celebração!

É ou não é a terra da Cocanha? Aquela lenda europeia que falava de um paraíso onde o vinho jorrava em fontes, os salames pendiam das árvores e tudo era farto e generoso. Pois aqui, essa lenda ganha contornos bem reais toda vez que entramos numa galeteria ou restaurante típico italiano.

O Galeto como Patrimônio Imaterial

A importância do galeto é tamanha que, em 2013, ele foi reconhecido oficialmente como Patrimônio Histórico Imaterial. O reconhecimento veio a partir da pesquisa da própria Rosana Pecini, no Mestrado em Turismo, que originou o livro A Invenção do Galeto. A proposta foi abraçada pelo então secretário de Cultura de Caxias do Sul, João Tonus, e por Liliana Henrichs, diretora do DIPAC – Divisão de Proteção ao Patrimônio Histórico e Cultural.