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A arquitetura italiana que moldou a Serra Gaúcha

Casas de pedra, capelas e vinícolas são marcos do legado dos imigrantes italianos na região


A imigração italiana no Rio Grande do Sul, que completou 150 anos em 2025, deixou marcas que ultrapassam a cultura e a gastronomia. Na Serra Gaúcha, a arquitetura se tornou um dos principais símbolos dessa herança, visível em capelas, vinícolas e casas que ainda preservam o estilo dos colonizadores. Muitos desses espaços são considerados patrimônio cultural e ajudam a compreender a formação das comunidades locais, como é o caso do conjunto arquitetônico de Antônio Prado, reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como o maior acervo urbano de casas de madeira e pedra da imigração italiana no Brasil.

Imagens: Prefeitura de Antônio Prado (Casas: 1. Antônio Gerra – 1900 | 2. Napoleão Dalla Zen – 1917 | 3. José Dotti – 1900 | 4. Giovanni Tergolina – 1900)

Segundo a arquiteta Cristina Mioranza, a construção realizada pelos imigrantes tinha como característica principal a adaptação ao território. “Os primeiros italianos utilizaram a pedra basalto e a madeira de araucária, abundante na região, para erguer casas funcionais, capazes de resistir ao frio e à umidade. Mais do que estética, era uma questão de sobrevivência”, explica a especialista.


Imagem: Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami: Álbum Recordação das Colônias (Colônia Caxias, atual município de Caxias do Sul. Data: 1885-1897

Além das residências, as capelas comunitárias foram elementos centrais na organização social dos imigrantes. O historiador Anthony Beux Tessari destaca que esses espaços tinham dupla finalidade: religiosa e comunitária. “As capelas não eram apenas locais de fé, mas também de encontro, decisão e fortalecimento da identidade coletiva”, afirma. Exemplos desse legado são a Capela de Santo Homobono, em Caxias do Sul, a Capela de São Marcos, em Flores da Cunha, e a Capela de São Pedro, em Bento Gonçalves. Construções que mantêm viva a memória arquitetônica e religiosa da imigração italiana na Serra Gaúcha.


A Capela de São Marcos (1921), em Flores da Cunha, é considerada um dos primeiros marcos arquitetônicos da cultura italiana.

A Influência da Vitivinicultura na Arquitetura da Serra Gaúcha

A vitivinicultura também é um reflexo direto dessa herança. As primeiras cantinas familiares, erguidas em pedra, serviram como base para o desenvolvimento das atuais vinícolas da região. “O vinho é parte da identidade da Serra Gaúcha e a arquitetura das antigas cantinas está diretamente ligada a esse processo produtivo”, analisa Mioranza. Hoje, algumas dessas construções foram restauradas e integram roteiros turísticos que valorizam a memória da imigração italiana no RS, como o Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, e a Rota dos Espumantes, em Garibaldi, que recebem milhares de visitantes anualmente.


Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami: Álbum Recordação das Colônias (Início dos parreirais na região colonial italiana – Colônias Conde D’Eu, Dona Isabel, Alfredo Chaves, Antonio Prado e Caxias)

Para a arquiteta, a conservação dessas construções é fundamental. “A arquitetura italiana da Serra Gaúcha não é apenas uma lembrança histórica. Ela nos mostra como os imigrantes se adaptaram ao ambiente e criaram soluções que até hoje influenciam nossa forma de construir. Preservar essa arquitetura significa manter viva a identidade regional”, ressalta.

Com o avanço da urbanização, muitos desses espaços passaram por restaurações e adaptações, mas seguem representando um elo direto com a história dos colonizadores. O reconhecimento desse patrimônio vem crescendo, tanto em iniciativas de preservação quanto na valorização turística. Assim, a arquitetura italiana permanece como um dos pilares da identidade cultural da Serra Gaúcha, consolidando-se como um legado duradouro dos 150 anos da imigração no Rio Grande do Sul.