ANDIAMO

150 anos da imigração italiana: fé, trabalho e família

Registros fotográficos ajudam a reconstruir a trajetória dos primeiros colonos italianos e seu papel essencial na transformação econômica e cultural da Serra Gaúcha

150 anos da imigração italiana: fé, trabalho e família 150 anos da imigração italiana: fé, trabalho e família 150 anos da imigração italiana: fé, trabalho e família 150 anos da imigração italiana: fé, trabalho e família
Foto: Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami
Foto: Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami

A chegada dos primeiros imigrantes italianos à Serra Gaúcha, em 1875, marcou o início de uma transformação profunda na região. Com poucos recursos, enfrentaram dificuldades de adaptação, clima rigoroso e isolamento. Conteúdo, deram origem a comunidades estruturadas sobre três pilares fundamentais: fé, trabalho e família. Esses valores, segundo o historiador e diretor do Instituto Memória Histórica e Cultural da Universidade de Caxias do Sul (IMHC-UCS) Anthony Tessari, são constantemente retratados nas fotografias da época.

Foto: Arquivo pessoal

As imagens, muitas vezes produzidas por fotógrafos italianos itinerantes, como Giovanni Battista Serafini, Francisco Muscani, Umberto Zanella, Domingos Mancuso, dentre outros, registravam casamentos, festas, plantações e celebrações religiosas. Além de guardar memórias, esses registros também eram utilizados como propaganda para atrair novos imigrantes.

“Há um documento em especial que cita exatamente isso, solicitando a produção de registros fotográficos pra que eles pudessem circular pela Itália pra atrair essa mão de obra. Portanto, as imagens mais antigas da região mostram as pessoas nas suas propriedades, já com a sua casa construída e com o seu lote colonial bem preenchido com a plantação”, relata Tessari.

Foto: Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami

A partir dos conhecimentos que trouxeram da Itália como carpintaria, ferraria, moinhos, pintura e outras práticas, os colonos começaram a desenvolver pequenas manufaturas que, com o tempo, dariam origem às primeiras indústrias da região. Um dos exemplos mais emblemáticos é o da família Eberle, cuja funilaria fundada em 1884 se transformou em uma das maiores metalúrgicas da América do Sul nas décadas seguintes.

A trajetória de crescimento econômico foi impulsionada também pela chegada do trem, em 1º de junho de 1910, sendo este um marco para o desenvolvimento industrial, comercial e industrial da cidade de Caxias do Sul. Foi a partir dele que a produção passou a ser escoada, permitindo que os comerciantes da cidade acumulassem mais capital, que passaria a ser investido em suas atividades fabris.

Rua Silveira Martins, atual Avenida Júlio de Castilhos esquina com Marquês do Herval. | Foto: Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami

Tessari destaca que o imaginário de sucesso do “italiano que venceu” foi construído intencionalmente:

“As imagens produzidas eram recortes idealizados. Não mostravam a pobreza, e sim a conquista, a estabilidade, o progresso”, afirma.

Essa construção simbólica está presente também em outros marcos históricos, como a Festa da Uva, que desde os anos 1930 reforça a identidade da imigração italiana na cultura local. Para além de uma grande celebração da cultura ítalo-gaúcha, a Festa também surgiu como um meio de exibir a fartura e os resultados positivos do trabalho dos imigrantes.

Celebrar os 150 anos da imigração italiana é reconhecer o papel decisivo desses colonos na formação social, cultural e econômica da Serra Gaúcha. Imagens, documentos e instituições locais preservam a memória que revela não apenas o passado, mas também a base sólida que ainda hoje define a identidade da região.