
Outro dia, em meu comentário semanal na Rádio Jovem Pan da Serra, abordei essa questão, fazendo referência a Robert Oxton Bolt, que, certa vez, disse, que “A crença não é apenas uma ideia que a mente possui; é uma ideia que possui a mente”.
Que mensagem quis o referido escritor passar?
Ele chamava a atenção para as ideias que se apossam da mente da gente; para o fato de que temos crenças que dominam nossas mentes com tamanha força e tal poder que, uma vez nelas instaladas, as crenças simplesmente são. A gente não se dispõe mais a questioná-las, porque a mente é possuída por elas – uma possessão mesmo -, já não importando se são verdades ou mentiras. Seja o que for, a gente credita.
Nesse contexto, falei que é moderno e atual dizer que esse fenômeno se manifesta muito, em matéria eleitoral, com as fakenews e, também, com intensidade tamanha e enorme potencial de desvirtuar a própria vontade democrática e a Democracia.
Eu concordo que esse seja um problema grave a resolver, mas discordo que seja novidade e, também, discordo que seja o único problema a resolver, convicção pessoal a que cheguei depois de ler uma crônica de Eugênio Paes Amorim contendo uma abordagem sobre as pesquisas eleitorais, e não estou a me referir, vejam, somente às eleições de 2022. Refiro-me a todas que já passaram, ou seja, de um modo genérico.
E aqui volto ao raciocínio com o qual iniciei essa crônica: as crenças que dominam a mente da gente a ponto de nós não mais questiona-las, pois, embora não dito, foi exatamente esse detalhe que foi detectado nos escritos do Eugênio, cresças deliberada e legalmente produzidas e que podem alterar nossa vontade democrática, vez que, salvo eu esteja totalmente errada quantos aos processos psicológicos cognitivos, as tais pesquisas eleitorais são aptas a produzi-las na mente da gente a ponto de influenciar ou aniquilar a liberdade e a vontade do eleitor.
Primeiro, perquirir as tais pesquisas eleitorais como verdades, pois, não raro, elas são desmentidas pelas próprias margens de erro ou pela realidade, e aqui não estou falando nem de uma mal-intencionada fonte específica de pesquisa, nem colocando em causa a metodologia empregada, nem me referindo a um partido político específico ou a uma ideologia em especial. Falo do conjunto.
A questão é: alguém (não militante) quer ser o perdedor? Obviamente ninguém. O ser humano é tendencialmente voltado à competição; à vitória. A vida nos impele a disputas, e não queremos entrar em dividias de bola para perder.
Se é assim, para que servem as tais pesquisas prévias eleitorais? A que interesses elas, não obstante legais, atendem (em um país em que a corrupção nas entidades públicas e privadas dá as cartas, como disse o Eugênio)? Por que tanto dinheiro é investido nisso? Qual é a utilidade de antecipar, por algum meio de pesquisa (todas falíveis ou que já falharam), o provável resultado de uma eleição?
Claro que sempre se pode pensar em uma utilidade prática interna ao concorrente, para saber de sua performance, mas não posso concordar, lucidamente, que essas pesquisas, especialmente aquelas divulgadas às “vésperas” da eleição, tenham por teleologia o mero direito de informação. A mim, tem dente de coelho aí. A permanência dessas pesquisas prévias no sistema eleitoral – tenho convicção – não repousa em um singelo direito de informação, já que a democracia se perfaz em um voto secreto, universal, de igual valor para todos, para o que, de regra, o resultado de pesquisa não deve ser determinante.
Ademais, podemos dizer, sem margem de erro, que as tais pesquisas não são manipuladas e que o resultado não atende aos interesses de quem as custeia? Outra coisa: podemos assegurar que o resultado hipotético que elas apontam, ainda que haja chances plausíveis e escusas de manipulação e erro deliberado, não interferem na mente e, por conseguinte, na liberdade e na própria Democracia?
Mas a crença de que isso importa está instalada em nossa mente, e as tais pesquisas se repetem sempre, sem que questionemos tudo isso e, em especial, a que interesses elas atendem.
A meu ver, elas interessam para formar uma pré-compreensão de uma convicção do “já ganhou”, em todos os tempos, e amealhar, com isso, mais votos, poque o indivíduo quer ser um vencedor, e não um derrotado.