Caxias do Sul - Na manhã desta sexta-feira (10), quem passou pela ERS-122, nas imediações do Viaduto Torto, em Caxias do Sul, encontrou uma cena que destoava do trânsito tenso e do som das buzinas. Em meio ao desvio da rodovia, um trabalhador de colete refletivo chamava atenção. Não por extravagância, mas pela serenidade e firmeza com que executava seu trabalho, acompanhado de um sorriso que revelava paz interior e propósito.
Francisco Teixeira de Souza, 58 anos, natural da Bahia, trabalha há um ano na empresa NTC, às margens da rodovia. Há 27 anos no Rio Grande do Sul, ele carrega no olhar a força de quem já atravessou muitas estradas, reais e simbólicas.
“Aqui fechei um ano essa semana. Já trabalhei com petróleo, celulose, embarcação, plataforma… rodei o Sul todo. Agora tô aqui, cuidando das vidas nas estradas”, conta com orgulho.
Seu cabelo crespo e volumoso, que ele chama de “marca de resistência”, é parte de sua identidade.
“Faz um ano e uns dois, três meses que deixo crescer. Tive que cortar uma vez, mas voltei com força. É parte de quem eu sou”, diz. Francisco entende o cabelo como expressão de liberdade. Um símbolo que carrega consigo a memória e o orgulho de sua ancestralidade negra.
A presença dele na rodovia tem inspirado quem passa por ali. Motoristas e trabalhadores da região relatam que Francisco transformou a rotina do local.
“Ele tem um jeito acolhedor, que muda o dia de quem cruza seu caminho. O pessoal até diminui a velocidade só pra cumprimentar”, comenta um colega de trabalho.
Superação e Fé na Estrada
Por trás da calma e do sorriso, há uma história marcada por superação e fé. Francisco lembra o episódio que mudou sua vida: aos sete anos, foi soterrado em um morro na Bahia e ficou seis meses em coma.
“Depois que me levantei, o dia ficou lindo e maravilhoso. Meu pai morreu em acidente, e acho que Deus me colocou aqui pra cuidar das vidas na estrada”, conta.
Hoje, ele encara o trabalho como missão e celebra cada amanhecer com gratidão. Sua expressão favorita, “Viver é copável!”, reflete sua filosofia. Viver é um ato que merece ser copiado, repetido, celebrado.
Alegria como Resistência
Entre caminhões e buzinas, Francisco lembra que a alegria não é distração, mas resistência. E que, às vezes, o gesto mais simples como um sorriso genuíno, pode tornar o caminho de todos um pouco mais leve e humano.