Caxias do Sul

Vítima de violência teme que preconceito aumente por causa da 'cura gay'

Neste domingo, dia 24, fez quatro meses que Leonardo Paim, foi agredido por ser homossexual, em Caxias do Sul. Foto: Reprodução
Neste domingo, dia 24, fez quatro meses que Leonardo Paim, foi agredido por ser homossexual, em Caxias do Sul. Foto: Reprodução
Neste domingo, fez quatro meses que Paim foi agredido por ser homossexual em Caxias do Sul (Fotos: arquivo pessoal)

A decisão do juiz federal da 14ª Vara do Distrito Federal, Waldemar Cláudio de Carvalho, que concedeu uma liminar abrindo a possibilidade de que psicólogos de todo o país ofereçam e pesquisem sobre a terapia de reversão sexual, conhecida como “cura gay”, abriu várias frentes de discussão sobre o caso, inclusive em Caxias do Sul.

No domingo, dia 24, cerca de cem pessoas participaram de uma manifestação que teve a intenção de chamar a atenção dos caxienses para esse tema. O protesto percorreu as principais ruas da cidade e terminou com um “beijaço” no Parque dos Macaquinhos, local onde teve início da caminhada.

Paim convive com o preconceito desde que assumiu a homossexualidade

Em relação à chamada “cura gay”, o jovem Leonardo Paim, de 19 anos, morador do bairro Kayser, que se assumiu homossexual há pouco mais de um ano e não concorda com a decisão judicial, acredita que poderá ampliar o preconceito.

“É um absurdo. Um retrocesso total, isso não existe eu não sou doente, nós não somos doentes. Essa decisão nos deixou com mais medo ainda. Já não é fácil ser assim por causa do preconceito, e ainda mais agora com alguém achando que somos doentes”, desabafa.

Novo ato deve acontecer no próximo domingo em Caxias

Para Paim, apesar do caso dar mais espaço para a discussão sobre a homossexualidade, ele entende que isso pode referendar a visão de quem já é preconceituoso. “Quem estava mudando de opinião ou tendo uma noção de quem nós somos, agora pode reverter tudo novamente. Eles não vão entender que nenhum tratamento vai me fazer virar heterossexual”, analisa.

Vítima de violência no bairro Sagrada Família no último dia 24 de maio, pelo simples fato de estar usando um batom roxo, Leonardo afirma que está com medo de sair na rua novamente com seu namorado. “Já fui vítima uma vez, me pegaram, me deram socos. Eram dois caras que me viram e me chamaram de ‘viadinho’ e, em seguida, começaram a me bater sem parar. Foi um horror”, lembra o jovem.

Na época em que foi agredido, ele postou em uma rede social o que estava sentindo momentos após a agressão. “Foram os cinco minutos piores da minha vida, senti medo, muito medo, senti medo por ser quem eu sou, todos os medos e demônios que me assombraram por anos voltaram naquele instante, tremi, chorei e corri muito. Não desejo essa sensação para ninguém no mundo, ter esse medo, mesmo que seja por alguns segundos, é devastador”.

Paim (dir) e Moisés Würdige, de 20 anos, namoram há mais de um ano

A procura de emprego como qualquer jovem da sua idade, ele afirma que não consegue passar da entrevista por causa do preconceito. “Caxias é uma cidade muito preconceituosa. Já me disseram que eu teria que me comportar como homem se quisesse o emprego. Que eu não poderia usar minha base ou batom. Teve um lugar que eu ia trabalhar com o público e me mandaram caminhar direito. Então eles não querem me querem lá. Eles querem o Leonardo que não existe”, pondera

Em casa, Leonardo teve apoio total dos pais quando resolveu assumir-se gay e ele contou principalmente com o apoio da mãe. “Ela foi muito boa comigo. Eu já não me aguentava mais. Tinha depressão, já estava com processo de anorexia e então eu tinha que dar um jeito no que eu sentia e falei pra eles que eu tinha um namorado e que era gay e que precisava muito que eles entendessem a minha situação”, conta.

No próximo domingo, dia 01, um novo ato deve acontecer em Caxias do Sul, mais uma vez chamando a atenção dos caxienses para a causa LGBT. Quanto a proposta da “cura gay”, o Conselho Federal de Psicologia recorreu da decisão na última quinta-feira e aguarda decisão.