Cerca de 8 meses após o susto que os caxienses levaram com a polêmica da carne de cavalo sendo vendida misturada com carne bovina em alguns restaurantes e casas de lanches apontadas pelo Ministério Público em Caxias do Sul, o risco de que essa situação ocorra novamente volta a pairar. Isto porque nos últimos meses o crime de abigeato aumentou consideravelmente e vêm preocupando as forças de segurança, bem como os proprietários de fazendas, principalmente no interior da cidade. Um dos problemas é que muitos produtores acabam não registrando o ocorrido na Delegacia, o que dificulta o trabalho da polícia em dar a resposta rapidamente a esse tipo de crime.
Recentemente na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, o vereador Rafael Bueno (PDT), abordou o assunto e solicitou providências das forças de segurança e de vigilância sanitária. A equipe de reportagem do Portal Leouve recebeu diversas fotos de animais abatidos e carneados em diversas propriedades do interior de Caxias do Sul. Conforme relatos de alguns proprietários, os criminosos agem a noite, quando os donos estão dormindo ou já não estão na propriedade. Os indivíduos acabam abatendo o gado com ao menos um disparo de arma de fogo na região da cabeça. Quando os proprietários chegam na fazenda no dia seguinte, encontram apenas a “carcaça” dos animais.
Depois que os criminosos levam a carne, acabam, por muitas vezes, vendendo à sociedade. Conforme um médico veterinário de Caxias do Sul, o qual não será identificado, quando alguém compra essa carne, a questão principal de não ter a procedência do “produto” consumido, vêm principalmente na relação de medicamentos e doenças.
“Têm diversos parasitas que podem afetar o ser humano, têm doenças virais que podem ser transmitidas através do contato dessa carne. Até mesmo doenças bacterianas a cometimento de febre desses animais tendem também a não serem interessantes para o consumo humano, além da aplicação de antibióticos para tratamento anti-inflamatório, antiparasitários, vermífugos, e carrapaticidas” salientou.
O veterinário explica que esses medicamentos têm carência para abate e para o consumo do leite, pois não é algo que se pode aplicar e logo consumir, exceto aqueles medicamentos que têm uma carência reduzida ou zero, mas no modo geral, se for abatido a noite, e, naquele mesmo dia durante a tarde, o animal tenha sido vacinado contra alguma infecção ou tratado com antibiótico, vai acabar prejudicando o consumidor.
“O risco maior acaba sendo até para quem consome. Quem consome uma carne sem procedência, principalmente agora que está se falando tanto que a carne está cara, bem como o leite, isso a longo prazo vai trazer prejuízos à saúde, pois se não houvesse esse risco todo não teria a carência dos medicamentos“, ressaltou.
Venda ilegal descontrolada
O veterinário também destaca que açougues comuns que comercializam a carne, porém não se têm informações de onde vêm o produto, pois não tem o carimbo da fiscalização, toda a carne, seja ela de qualquer animal, corre-se o risco dela virar guisado, podendo ser misturada e comercializada.
“Por exemplo, só existe o tráfico de drogas porque existe o consumidor, assim como só existe o abigeato porque existe o consumidor e, às vezes, este consumidor nem sabe de onde vêm a carne, então ele está indo naquela inocência, está indo comprar uma carne mais barata, mas e qual é o risco que você está se colocando? Na inocência às vezes” explicou.
Conforme relatos, as localidades de Vila Seca, Criúva, São Francisquinho, Rincão das Flores e regiões aos arredores, estão sofrendo muito com este crime de abigeato, sendo que é uma área muito extensa, contendo muitas saídas para todos os lados, dificultando a fiscalização por parte das forças de segurança.
“A gente vê tanta acusação de leite e carne cara, mas ninguém sabe o quanto custa para o produtor para produzir 1 kg de carne, produzir 1 litro de leite. Não é buscando comprar carne barata que nós vamos resolver o problema, pelo contrário, está causando ainda mais prejuízo para quem produz e, consequentemente, levando um produto de má qualidade à sociedade, gerando um ciclo que prejudica a todos” finalizou o médico veterinário.