Opinião

Ver uma lenda não é coisa pra todo dia

Ver uma lenda não é coisa pra todo dia

Músicas podem ser boas ou ruins ou ainda passar despercebidas. Há músicas que nos marcam por um tempo e depois já nem conseguimos ouvi-las. Outras marcam na primeira vez e nos acompanham para sempre.A boa música pode trazer nostalgia, melancolia, alegria, mexe com os sentimentos. Causam rebuliço, alegria e inquietação.

Pois nesta sexta vou ver o Paul McCartney. Como bem definiu meu amigo Vanderlei Cunha, um profundo conhecedor da cena musical brasileira e um daqueles devotos fãs e colecionadores de fatos sobre os Beatles, Paul McCartney é uma espécie de Pelé, e deveríamos ser gratos só por viver na mesma época deles. Boa Vanderlei, não tinha me dado conta de agradecer por isso.

No meu 20º aniversário fui pra uma festa Sociedade Ginástica em Novo Hamburgo. O DJ era o Clóvis Dias Costa e prometeu um presente a quem comprovasse fazer aniversário naquela data. Foi assim que ganhei um LP do Wings. Lá tinha, Silly love songs e Band on The Run, esta última no set list do show.

Minha história com Beatles começa bem antes. Um dia, o Cassio, meu amigo de infância leva uma eletrola da tia dele – que depois foi minha professora, a Marta – e um disco compacto. Yesterday de um lado, Help do outro. Como começou a chover, o Cassio foi embora prometendo pegar mais tarde a eletrola, que era instrumento pedagógico da tia/professora/musa da primeira infância. Passei a tarde ouvindo aquelas duas músicas. Eu devia ter nove anos e foi nesta época que os Fab Four dissolveram a banda. Não havia internet, o três em um lá em casa chegou bem depois e as rádios que a gente ouvia pouco tocavam Beatles

Então eu fiquei ali, embasbacado com aquela sonoridade. A poesia e lirismo de Yestarday e a alegria e irreverência de Help. Foi um tipo de descoberta da música, melhor dito, da boa música pra mim. Antes daquilo só jovem Guarda e Vanderlei Cardoso, ah, e A Praça, do Chico Buarque – bem mas este dá outra história.

Em 1980, com meu primeiro salário assinei a revista Veja e a primeira capa, no mês de dezembro trazia o assassinato de John Lennon. Só depois, bem mais maduro é que fui ter empatia e passei a curtir a guitarra do George Harrison. Se foi também. Agora vou ver Sir Paul. E ele já tem bem mais do 64, mas ainda dá um baita caldo. Aliás ver p cara nesta idade fazendo o que ele faz tem que servir como inspiração mesmo. E o som no Beiro Rio vai ser bem mais alto do que o daquela eletrola que tanto mexeu comigo naqueles verdes anos.

Ver o Paul é sonho adiado em alguns anos. Quando ele esteve aqui em Porto Alegre em 2010 os filhos foram e eu fiquei. Agora não dava pra deixar o trem passar novamente. Dois Beatles já morreram e eram bons demais. Improvável uma terceira chance. Não tem como deixar passar.

Desconfio que nunca vou enjoar dos Beatles e suas lindas canções e um tempo que eixou belas lembranças. Não vai ter chuva que atrapalhe. Meu amigo Vanderlei Cunha tem razão: que privilegiados somos.