Com saldo de empregos acumulado de 1.606 vagas entre janeiro e maio deste ano, todos os segmentos econômicos de Bento Gonçalves estão com números positivos na geração de postos de trabalho. Até o setor de serviços, o mais impactado neste período pandêmico, tem mostrado fôlego: acumula em 2021 um saldo positivo de 372 vagas e, nos primeiros cinco meses do ano, só demitiu mais do que contratou em março (-101) – o período mais letal da crise sanitária. Mais um fator soma-se ao cenário que inspira confiança na retomada econômica. O governo reviu sua projeção sobre o Produto Interno Bruto (PIB) e estipulou crescimento de 5,3% para o ano – alta de 1,8 ponto percentual em relação ao último boletim divulgado pela Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia, em maio.
Os bons números encontram respaldo no relaxamento das medidas restritivas por parte do governo estadual, além da maior consciência da população quanto aos protocolos de saúde, na análise do presidente do Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG), Rogério Capoani. Isso promove um ensaio de um segundo semestre positivo, ancorado, principalmente, no avanço da vacinação. “A expansão da campanha de vacinação traz confiança e segurança para o funcionamento pleno de todas atividades. Isso eleva nossa confiança para uma curva ascendente durante o segundo semestre”, prevê Capoani.
Claro que os efeitos da pandemia ainda não podem ser esquecidos – e nem outras ameaças. Embora as médias móveis dos últimos sete dias de morte e de novos casos estejam caindo, os patamares ainda são muito altos, 1.101 no primeiro caso e 45.363 no segundo, de acordo com dados do dia 26 de julho. Além disso, menos de 20% da população brasileira está imunizada completamente e menos da metade da população recebeu a primeira dose da vacina. Há, ainda, a variante delta já atuando no país, considerada mais transmissível que as anteriores. A tensão política no país e o temor da crise hídrica também precisam ser somados como vetores de advertência, assim como os problemas na cadeia de suprimentos.
Respaldo dos números para o otimismo
Entretanto, há dados econômicos que seguram as boas perspectivas para o restante do ano. A evolução do emprego formal é um deles. Em 2021 (46.746), Bento ultrapassou o contingente de 2014 (46.066), até então o maior da série, em 680 postos de trabalho, da mesma forma que é 3,6% superior a 2020, mostra o último relatório divulgado pelo Observatório da Economia (OECON) do CIC-BG, com dados de maio. O saldo positivo de novas inscrições de empresas no município também vem acumulando altas, segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico. No segundo semestre de 2020, a diferença entre empresas abertas e fechadas foi de 631, enquanto no primeiro semestre deste ano esse resultado foi de 690 negócios.
Um dos motivos para essa performance, diz a titular da pasta, Milena Bassani, está no perfil empreendedor do bento-gonçalvense, que ano após ano tem investido cada vez mais em negócios próprios. Neste sentido, a Sala do Empreendedor tem auxiliado o jovem empresário para tirar dúvidas e abrir sua empresa. “Juntamente com o Sebrae, o espaço atua na desburocratização e maior orientação para quem quer empreender. A Secretaria de Desenvolvimento seguirá buscando agilizar os processos, facilitando com acesso digitalizado e oferecendo benefícios com a Lei de Desenvolvimento Econômico”, projeta.
Para Adelgides Stefenon, economista, consultor de empresas e coordenador do Observatório de economia do CIC-BG, as previsões para a economia estão robustas, ainda que o país precise realizar reformas tributária, administrativa e política. O principal sinal está no PIB em alta. Mesmo com a inflação e o dólar em patamares um pouco elevados, ambos estão sob controle. “Precisaremos domar a inflação com um aumento da taxa de juros Selic, embora trazendo uma pequena redução de consumo. Ainda assim, manteremos em bom nível a taxa de juros e a inflação, e o país tende a crescer, com um PIB em mais de 5%, inflação em leve alta, mas controlada, fechando o ano perto de 6%, Selic em torno de 6% também e dólar em torno de 5,10/5,30”, aposta.
Setores começam a recuperar o fôlego
Os sinais de otimismo estão presentes também nos segmentos econômicos de Bento Gonçalves. De modo geral, os principais setores da indústria se comportaram bem no primeiro semestre de 2021. No moveleiro, apesar das vendas internas oscilarem e recuarem no segundo trimestre, foram as exportações que reagiram de modo favorável em todo primeiro semestre. “Com uma estratégia de competitividade e distribuição para novos mercados, as exportações moveleiras também foram beneficiadas pelo ganho cambial que acabou compensando o aumento de custos das matérias primas”, observa o vice-presidente para Indústria do CIC-BG, Francisco Bertolini.
Já o setor vinícola, além da boa safra deste ano, colheu bons resultados no primeiro semestre, crescendo em relação ao ano de 2020 na venda de vinhos e espumantes. Outro que conseguiu agregar resultados no primeiro semestre foi o metal mecânico e de máquinas e equipamentos, mesmo com o aumento de custo das matérias-primas, que vem castigando o setor, principalmente dos insumos ligados ao aço. “Com a redução dos casos da COVID-19 e o avanço da imunização no país, somado a tendência de melhora na cadeia de suprimento, as previsões para o segundo semestre seguem bem positivas, mesmo com o aumento de preços dos insumos e matérias-primas”, diz Bertolini.
No comércio, o primeiro semestre foi marcado pela retomada efetiva, sem o “abre e fecha” que ocorreu em muitos momentos, o que impulsiona um cenário mais positivo para o setor, observa a VP para o Comércio do CIC-BG, Marijane Paese. “Vivemos uma expectativa de crescimento, com a economia crescendo e os empregos voltando pode-se recuperar boa parte dos prejuízos de 2020. Entendemos que esse é o momento de inovar e se aperfeiçoar para atender os novos desafios da conjuntura econômica e as expectativas do consumidor pós-pandemia. No segundo semestre, o CIC estará focado em trazer alternativas de aperfeiçoamento para o setor”, destaca Marijane.
Por envolver diversos segmentos, o setor de serviços teve áreas que apresentaram uma recuperação mais rápida em relação a outras. É o caso dos negócios que atendem o segmento industrial, diz o VP de Serviços do CIC-BG, Gilberto Durante. A área de turismo está passando por uma retomada expressiva – caso do enoturismo, turismo cultural e turismo rural.
Recentes decretos de flexibilização têm permitido aos setores de gastronomia e de hospedagem a operarem com maior volume de capacidade de atendimento, um caminho que também está beneficiando os empreendimentos de entretenimento e lazer. É o que está ocorrendo também com os eventos sociais, e grandes eventos estão programados para ocorrerem a partir de outubro, como a Expointer, em Esteio. “Podemos comemorar esse momento, pois muitas áreas estão sofrendo perdas e prejuízos acumulados desde março de 2020. Com o avanço da vacinação e os protocolos de segurança sendo mantidos e seguidos pelas empresas e pelas pessoas, o setor de serviços segue firme para uma retomada importante”, comenta Durante.