Uma reforma que precisa de reformas

Nos mais diversos debates ideológicos o que sempre me intrigou e prendeu a atenção é como dois lados opostos encontram tantos argumentos para sustentar suas teses diametralmente contrárias. E quando há razões tão sólidas é de se esperar, necessariamente, que a razão não esteja em qualquer extremo.

Veja-se agora com as novas leis trabalhistas em vigor desde o último sábado. O antagonismo entre capital e trabalho coloca de um lado governo e empresas/patrões e de outro trabalhadores/sindicatos. É fato que o capital não vive sem o trabalho. Isto é especulação e mesmo esta precisa encontrar lastro na produção, senão vira bolha que um dia explode e leva todos pelos ares.

Vejo sindicalistas profundamente preocupados com a sustentação e suas estruturas. Mas também enxergo uma oportunidade invulgar para a desacomodação a que muitos estavam entregues. É hora para um rearranjo de funções. O comodismo que levou alguns sindicatos a se tornarem associações terá que dar espaço à busca de um novo e importante papel. É bem verdade que quem investiu em sede campestre, piscina e hotelaria, estará melhor preparado para atrair mais associados. Os empregados mais do que nunca vão precisar estar aglutinados em torno do sindicato e estes em torno da federação. A CLT já não é mais guarida segura.

Não há dúvida que existem inovações nefastas e até perversas para com a classe laboral: não ter uma segurança quanto ao número de dias trabalhados, precisar negociar direta e individualmente com o patrão a gente imagina onde vai dar e quem sai ganhando ao final da negociação. E há ainda muitas outras normas que ao fim criarão subempregos. A reformulação não está completa e será preciso chegar a um termo razoável.

Mas também é inegável que o país e as pequenas empresas não suportavam mais uma legislação cara e excessivamente protecionista. O fato é que as reformas vieram com décadas de atraso e quando vieram foram demasiadamente drásticas. Só o futuro dirá em que medida atenuarão ou aprofundarão a crise num mercado de trabalho que, por outros fatores, já começara a se recuperar.