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Uma greve pela reforma

Uma greve pela reforma


As consequências do desabastecimento resultante do movimento que iniciou como uma greve dos caminhoneiros e que agora se torna uma crise dos combustíveis em todo o país, com a adesão de motoristas de vans, de carros por aplicativo, dos motoboys, enfim de todos que trabalham com veículos e precisam necessariamente abastecer seus veículos e são escorchados por preços absurdos, em grande parte pela alta taxa tributária, colocam em xeque o modelo de Nação que queremos.

A verdade é que é isto que está em jogo hoje: o modelo de Nação. Ou sairemos desses dias tensos ainda mais fragilizados, reféns de interesses pontuais e à mercê de aventureiros de toda espécie, ou nos fortalecemos como povo, para que nossas reais necessidades sejam atendidas em primeiro lugar, obrigando uma mudança de paradigma de um governo que é gerente do lucro para um governo que seja promotor da justiça e do desenvolvimento.

E essa decisão passa agora pela greve dos caminhoneiros, e por isso é preciso que esse movimento não seja reduzido a apenas a necessidade de baixar o preço do diesel. Não. Ele precisa ser um movimento que force o governo a discutir de uma vez por todas uma reforma tributária que atenda as necessidades de desenvolvimento e de justiça social no país, porque só vamos sair dessa imensa crise a partir da reforma tributária, para que a gente não pague mais ou menos 80 tributos, entre impostos, taxas, contribuições e empréstimos compulsórios que representam mais de 30% de toda a riqueza produzida no país e nos faz pagar, por exemplo, 46% a mais no preço do combustível, 35% no preço dos remédios, 45% na conta da luz, para o governo forrar suas burras e gastar mal nosso dinheiro. É isso que está em jogo.

E não dá pra esquecer que os postos de combustíveis que vivem se queixando ganham no mínimo 10% sobre cada litro de combustível, o que não é praticado em nenhum lugar do mundo. E também não podemos esquecer o que aconteceu ontem nas cidades brasileiras, com um avassalador aumento irregular, ilegal e inadmissível que explora ainda mais o brasileiro. Nada justifica a ganância, e ela precisa ser punida, porque é ainda mais cruel diante de uma crise que cobra o maior preço do povo que menos pode pagar. Porque os preços aumentam cada vez mais, e nada disso está na pauta do dia, nada disso é discutido pelo governo, que demonstra a cada dia que não tem legitimidade sequer para negociar e é fraco a ponto de capitular aos interesses de grupos específicos e mesmo assim não consegue estancar a sangria aberta com a paralisação que paralisa o país inteiro.

E se a degradação da sociedade se mostra na ganância hipócrita dos oportunistas e seus aumentos de preço, também está no medo hipocondríaco dos egoístas que correm aos supermercados do país como se vivessem os últimos dias e a única saída fosse o salve-se quem puder, e que seus absurdos desejos de estoques de comida como num filme de zumbis ou num país que finalmente sucumbiu à sina de se ver uma imensa Venezuela pudessem redimir todo individualismo.

A greve dos caminhoneiros é justa e legítima, mas nos leva a diversas interpretações, e nem todas elas são positivas. Uma dessas arestas que fogem da curva da aprovação é que o efeito cascata do aumento de preços, não só dos combustíveis, é inevitável por conta do desabastecimento e da corrida desenfreada para garantir o seu sem importar o outro. E é preciso deixar registrado aqui: eu quero ver se, depois que a situação estiver normalizada, os preços voltarão aos níveis anteriores. Se isso não acontecer, será um enorme desserviço à Nação para locupletar empresários gananciosos e um governo corrupto que nos escorcha a cada dia através de impostos abusivos.

O fato é que, até hoje, em seu quinto dia, o movimento conquista apenas a promessa de congelamento de preço e menos impostos para o óleo diesel, mas não se vê a mesma exigência com o preço da gasolina, por exemplo. Sobre isso, nenhuma palavra do governo, nenhuma palavra dos representantes dos caminhoneiros.

Então, não basta apoiar os caminhoneiros. São eles que precisam agora apoiar a população. Eles estão lutando hoje para diminuir o preço do diesel. Correto, e merece apoio. Mas o que necessitamos é que, assim que conseguirem seus objetivos, se mantenham atentos e mobilizados para fazer com que o governo repense, de uma vez por todas, esse sistema tributário injusto.