Os destroços de veículos blindados expostos na avenida central de Kiev por ocasião do Dia da Independência, que será celebrado na quinta-feira (24), ilustram a magnitude das perdas russas, mas não escondem as dificuldades da contraofensiva ucraniana.
Após meses de armazenamento de armas ocidentais, o Exército ucraniano iniciou, em junho, uma grande operação militar no sul e no leste para retomar seus territórios ocupados.
A Rússia aproveitou esse tempo para construir as suas linhas de defesa, que incluem enormes campos minados. Apesar dos combates ferozes, os avanços ucranianos se limitam a poucas cidades.
Vitali, que como todos os soldados não podem revelar o sobrenome, admite que o Exército está muito sobrecarregado.
“Concordo, está demorando”, admitiu o militar de 21 anos, de licença em Kiev. “Tenho a impressão de que não há homens ou materiais suficientes”.
A imprensa americana começou a relatar que Washington, um impulsionador da ajuda militar à Ucrânia, está cada vez mais cauteloso sobre a capacidade de Kiev de retomar uma parte considerável do seu território.
Especialmente ao ver que as perdas aumentaram, com 70.000 militares ucranianos mortos em 18 meses, segundo fontes do governo americano citadas pelo jornal The New York Times. O balanço russo seria maior, de 120.000 mortos, mas as suas reservas são muito maiores, uma vantagem a longo prazo.
Na avenida Khreshchatyk, poucos dias antes do Dia da Independência, algumas pessoas não escondiam a raiva daqueles que pedem conquistas rápidas no Ocidente.
“Pode haver pessoas mal informadas no Ocidente que pensam que estamos em um reality show”, disse Anna, 35 anos, ecoando uma crítica comum na Ucrânia.
As autoridades ucranianas insistem que sempre souberam que a batalha seria longa e difícil. E que as expectativas não eram realistas.
O ministro das Relações Exteriores, Dmitro Kuleba, disse à AFP que a determinação do país permanece intacta “não importa quanto tempo leve” para vencer.
Putin declara contraofensiva ucraniana um fracasso
Na Rússia, Vladimir Putin já declarou a contraofensiva ucraniana um fracasso. Especialistas apontam que Moscou continua com vantagem em homens, material e munições.
“Esta ideia de que podemos desmantelar as defesas russas sem um poder de fogo superior é errada”, afirma Mykola Bielieskov, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Kiev.
“Não entendo como alguns poderiam esperar isso”, acrescentou.
O anúncio, durante uma viagem do presidente Volodimir Zelensky à Dinamarca e à Holanda, da entrega de 61 caças F-16 à Ucrânia, é um novo sopro de esperança.
Mas é pouco provável que estes aviões sejam colocados no campo de batalha tão cedo para fornecer às tropas envolvidas na contraofensiva o apoio aéreo de que precisam.
Por esta razão, alguns apoiadores da Ucrânia não escondem o ressentimento com os ocidentais, que não abriram imediatamente todos os seus armazéns militares, dando tempo aos russos para reforçar as defesas.
Mísseis explosivos e drones continuam chovendo sobre cidades ucranianas e matam civis. Diante deste perigo, o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, proibiu todos os eventos em massa por ocasião do Dia da Independência. Ele fez um apelo à prudência e pediu para “não ignorar os alertas de defesa antiaérea”.
Fonte: Correio do Povo