CANSADA DE ESPERAR

"Tive que me humilhar", diz mulher que se acorrentou na frente de hospital em Farroupilha

Patrícia Lima, de 47 anos, aguarda cirurgia há oito meses e não aguentou mais. Protesto extremo evidencia demora da saúde pública da Serra

FARROUPILHA
Foto: Brigada Militar/Divulgação

Após a grande repercussão do caso de Patrícia Lima, 47 anos, que se acorrentou em frente ao Pronto Socorro do Hospital Beneficente São Carlos de Farroupilha, na manhã da última quarta-feira (17), por conta da demora de uma cirurgia, a paciente foi internada na unidade.

A mulher sofre há cerca de oito meses com sangramentos no útero por conta de um mioma. Ela relatou que já realizou consultas com variados médicos na esperança de enfim passar por uma cirurgia de retirada do órgão, o que até o momento não ocorreu.

Em entrevista ao programa Bom Dia Trabalhador, da Rádio Viva 94,5 FM, com o comunicador Sinval Paim, ela, que é moradora do bairro Santa Catarina, contou os motivos que a fizeram tomar tal decisão.

“Quando tu chega em uma situação extrema, tu acaba tomando atitudes assim. Tanto é que eu falei quando a dona Janete (Toigo) chegou ali, que fui funcionária do hospital e tive que me humilhar deste jeito”, disse.

Janete Toigo, a qual Patrícia se refere, é a superintendente do Hospital São Carlos, ela que também conversou com o Secretário Municipal da Saúde, Thiago Brambilla, sobre o caso.

“O Secretário da Saúde já sabia, eu já tinha falado com ele. Ele disse que se eu estivesse muito mal, era para procurar o Pronto Socorro. No dia 13 de agosto eu estava com sangramento excessivo e eu vim para o hospital, fiz soro, tudo, me deram anticoagulante e mandaram embora”, relembrou durante a entrevista.

Ela contou que no dia de ontem, os profissionais da casa de saúde não encontraram sangramento. Lima explicou que os sangramentos ocorrem em grande volume por cerca de três dias, depois cessa, mas logo o mesmo processo se repete, por mais que a paciente já tenha tomado um remédio que teria que impedir este quadro. Ela já enfrentou diversos problemas por conta desta situação.

“Eu deixei de tomar todos os remédios que os médicos me deram. Faz 15 dias que eu não tomo um anticoagulante, um remédio que era para cessar o sangue e não está cessando. Estava gastando dinheiro atoa. “Eu já tive anemia, já fiz cinco sessões de soro no Posto de Saúde do Cruzeiro. Estou tomando, desde que acabou as sessões de soro, comprimidos de anemia. Hoje que estou no hospital, as minhas mãos e meus pés estão amarelos”.

No momento, Patrícia Lima está internada no Hospital São Carlos recebendo cuidado e tomando soro, o que não anima a paciente, como ela relatou. Ela está na posição 120 da fila do Sistema Único de Saúde (SUS), em uma fila que é gerida pelo Estado.

“Estou dentro do hospital fazendo soro, medicação, fiz uma ecografia transvaginal ontem, que ela não conseguiu fazer por baixo, ela teve que fazer como seu eu fosse gestante, por cima. Não sei o motivo, se os miomas se proliferaram ou se tinha sangramento coagulado lá dentro, eu não sei e não me falaram. Estou sendo tratada entre aspas, daqui um dois dias eu vou ser liberada”.

Por fim, ressaltou que sua atitude não foi uma retaliação por não ser atendida pelo Hospital São Carlos, mas sim um protesto pela demora na realização das cirurgias.

“Não é questão de não ser atendida, eu não fiz aquilo porque eu não fui atendida. É a demora das cirurgias, dos procedimentos que a gente tem que fazer. Eu sempre fui atendida no hospital, a questão é a tal da gerência das cirurgias, dos procedimentos que não é aqui, e isso que a gente tem que lutar pra mudar. Tem gente muito mais tempo que eu esperando”, finalizou.

Procurado, o secretário Thiago Brambilla afirmou que da parte de Farroupilha, os atendimentos possíveis foram prestados.

“O município prestou todos os atendimentos necessários que lhe competiam enquanto responsável pela atenção básica. Foi encaminhado para especialidade que é de responsabilidade do governo do estado e depois da avaliação médica, determinou realização de procedimento eletivo. Importante salientar que todo o encaminhamento se dá através de critérios técnicos por parte do corpo clínico”, disse ele por meio de nota.

A entrevista completa com Patrícia Lima na Rádio Viva 94,5 FM, você confere abaixo.