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Temporais deixam rastro de 16 gaúchos mortos, maior número para esse tipo de catástrofe no Estado em mais de 40 anos

Ao menos 48 cidades foram afetadas

Temporais deixaram rastro de 16 gaúchos mortos, maior número para esse tipo de catástrofe no Estado em mais de 40 anos
Foto: Mauricio Tonetto/Secom-RS

O ciclone extratropical ocorrido na semana passada é o mais grave do Rio Grande do Sul nos últimos 43 anos, considerando-se catástrofes relacionadas a temporais com mortes. São 16 mortes confirmadas até esta terça-feira (20), além de um quadro de devastação em 48 cidades, com 1.538 desabrigados, 13.824 desalojados e muita coisa a ser reconstruída.

“Esses números são atualizados pelas Coordenadorias Municipais de Defesa Civil e podem sofrer alterações ao longo dos próximos dias”, ressalta o governo gaúcho. “Desde 1980, não há registros de outro episódio que tenha acarretado tantas perdas humanas devido a enxurradas no Estado.

O desastre natural que castigou diversas regiões do mapa gaúcho na quinta e sexta-feira passadas (15 e 16 de junho) causou comoção social e mobilizou órgãos governamentais para serviços de socorro e atendimento às vítimas. Em sequência ao amparo às famílias afetadas, o próximo passo é a recuperação das estruturas danificadas e destruídas.

“Embora tenha sido um evento de grande extensão e número de óbitos, está sendo possível verificar a grande e efetiva articulação dos órgãos oficiais e da comunidade para que os danos humanos sejam minimizados e com a mais rápida e a melhor resposta possível”, ressalta o coordenador estadual de Proteção e Defesa Civil, coronel Luciano Chaves Boeira.

Em novembro de 2022, a Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG) lançou um mapeamento das ocorrências de desastres naturais no Estado, analisando a sua distribuição e frequência. O material, elaborado a pedido da Defesa Civil Estadual, contempla o período de 2003 a 2021.

O levantamento teve por base a série histórica do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD), do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), iniciada em 2003. Mas as informações sobre mortos e feridos estão presentes apenas no que se refere ao intervalo entre 2017 e 2021.

“Se considerarmos os demais episódios de inundações, enxurradas e vendavais do período estudado, houve mais eventos nos últimos anos, mas este de agora é o que mais provocou danos”, acrescenta o diretor do Departamento de Planejamento Governamental (Deplan), Henrique Gomes Acosta, da SPGG.

Conforme o estudo da SPGG, entre 2017 e 2021, mais de 4,4 milhões de gaúchos foram direta ou indiretamente atingidos por desastres naturais em 482 municípios do Estado, sendo identificadas 14 mortes: cinco causadas por vendavais, quatro por enxurradas, duas por chuvas intensas, duas por tornados e uma por inundação.

Nesse mesmo período, o número total de falecimentos foi ainda menor do que o contabilizado neste único episódio de junho de 2023. Isso evidencia a magnitude e severidade daquela tragédia.

A série histórica aponta, ainda a ocorrência de outro evento de ciclone extratropical em outubro de 2016, na região de Imbé (Litoral Norte), sem maiores danos. Mas é possível que outros eventos de ciclone tenham desencadeado episódios classificados como vendavais, enxurradas, inundações, alagamentos ou chuvas intensas.

Comparação

Considerando-se os números contabilizados até o momento pelas Coordenadorias Municipais de Defesa Civil, os danos gerados pelo evento da semana passada fazem dele o mais grave dos últimos anos, independentemente do tipo de desastre.

Em janeiro de 2019, por exemplo, houve uma chuva intensa em Alegrete, que resultou em duas mortes, 1.170 desabrigados e 4.357 desalojados. Esses números, no entanto, ainda estão aquém do efeito destruidor do evento registrado agora em junho.

Ainda de acordo com a pesquisa da SPGG, outros dois eventos chamados ciclone bomba ocorreram em 2020, com uma morte no Rio Grande do Sul. E antes desses eventos, em 2004, ocorreu o furacão Catarina, com 11 mortes, todas em Santa Catarina.

Destaca-se, ainda, a ocorrência de uma microexplosão (downburst), evento vinculado à tempestade, que afetou Porto Alegre em janeiro de 2016, com temporal e ventos de até 119,5 km/h, causando prejuízos públicos de grande repercussão na capital, sem registro de óbitos. O banco de dados do S2iD não registrou esses fenômenos.

Estatística mais remota

Para verificar dados anteriores ao ano de 2003, é necessário consultar outras bases. Uma pesquisa de Bernadete Weber Reckziegel, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), apresentada em 2007, realizou um levantamento dos desastres desencadeados por eventos naturais adversos no Estado entre 1980 e 2005. Segundo o estudo, nenhum deles causou tantas mortes como o ciclone deste ano.

O estudo cita, ano a ano, as ocorrências de desastres naturais em solo gaúcho. Um dos mais devastadores foi um deslizamento, em Estância Velha, de parte do aterro de uma rodovia, que soterrou duas moradias e provocou a morte de dez pessoas. Em maio de 1997, um vendaval provocou sete mortes na região de Tapejara.

*Com informações de O Sul