A sutil diferença entre inaugurar e por em operação

Ninguém duvida que vivemos tempos difíceis. E ai é bom lembrar que meio litro de água no deserto é quase um oceano. Mesmo assim deve ser sorvida com moderação e até devoção.

Existem obras públicas de todos os tamanhos. De uma boca de lobo que absorva a água do temporal a um túnel de 20 quilômetros. Cada um com a sua importância e atendendo determinada quantidade de cidadãos.

Lembro-me quando ainda era estudante de jornalismo, lá na minha querida Novo Hamburgo. Eu era foca no diário NH, importante jornal da região metropolitana. Fui designado para a “inauguração” de uma sinaleira. Ficava na BR 116 numa intersecção onde pessoas haviam perdido a vida. Ainda assim parecia brincadeira. Lá estava o pessoal do DNIT e da Polícia Rodoviária. Eu e um fotógrafo – luxo que hoje quase não existe, pois o jornalista entrevista, fotografa, filma e produz.

Enfim, a inauguração não chegava a ser bem isto. Era colocar o sistema em funcionamento. Mas a presença do jornal garantiria o tom solene e demonstraria como aquele equipamento seria importante. Hoje, passadas três décadas, não há mais sinaleira na 116, são viadutos.

Pois não deixou de ser motivo de chacota o convite recebido para a inauguração nesta sexta-feira do banheiro na praça Achyles Mincrone. Memes nas redes sociais, trocadilhos infames, curiosidades escatológicas. Não tinha como deixar de ser assim. É peculiar mesmo.

A solenidade tem lá suas explicações. Vivemos época de vacas magérrimas, então é preciso capitalizar. O Bairro Planalto/São Bento vive hoje o centro de uma polêmica. Sobre sua vocação e altura dos prédios que o Plano Diretor permitirá. A praça em questão é a mais frequentada no perímetro do Centro e arredores. São adultos, crianças, famílias em grande número. Tem até brinquedos com design, motivo de orgulho para a cidade do móvel. Carecia do banheiro e, diga-se, nem todos os moradores concordavam, como ocorre hoje com as proposições do Plano Diretor.