Bento Gonçalves

Sociedade e classe política devem assinar pacto

Sociedade e classe política devem assinar pacto
Fotos Gerson Lenhard
Lideranças comunitárias e especialistas debateram planejamento

“Este não é um desafio da Prefeitura, mas dos apaixonados pela cidade. O Prefeito precisa atender as demandas do hoje e os passivos cobrados pelo cidadão, mas a sociedade deve patrocinar o planejamento futuro”. A definição é do ex-prefeito de Maringá, Sílvio Barros, estrela principal do evento “O Futuro da Minha Cidade, desenvolvido na noite de quinta-feira para uma plateia de pouco mais de cem pessoas que aceitou o convite da Ascon Vinhedos- promotora do encontro que ainda teve o apoio de diversas outras instituições da cidade.

Silvio Barros, de Maringá

Com pouco mais de 400 mil habitantes Maringá pontua como uma das melhores cidades para se viver no Brasil e este é o resultado de um planejamento que entre outras metas estabeleceu como limite de crescimento populacional o número de 600 mil habitantes. “Pensam que é fácil tomar uma decisão destas? não é”.

Para a definição de um planejamento de 20 anos – não adianta fazer para prazo muito maior porque as coisas mudam” – é preciso estabelecer um pacto entre a sociedade e a classe política e será preciso confiar nos políticos. “Não venham com esta conversa de que os políticos não prestam, somos nós que os colocamos lá”, advertiu.

Iniciativa da Câmara de Brasileira da Indústria da Construção, o projeto Futuro da Minha Cidade já está implantado em diversas cidades -além de Maringá é possível citar Goiânia – e pressupõe a formação de uma Comissão interinstitucional mas com representatividade forte de entidades que congregam o poder econômico. Barros explica porque: “queremos pensar numa cidade que privilegie o cidadão. A maioria das demandas vem de gente que não tem recursos. A Prefeitura recebe dinheiro de impostos que são gerados a partir da atividade econômica. Portanto nada mais correto do que privilegiar quem gera estes recursos”. Ele faz um alerta: “São os apaixonados pela cidade, são os parceiros deste novo conselho que devem financiar suas ações”.

Bom e atento público no debate

Para Barros, não há concorrência com conselhos já existentes como o Complan: “Estes resolvem questões imediatas, o que propomos aqui são soluções para o futuro”. Na “receita de bolo” para a possível implantação do projeto, o ex-prefeito conceitua: o planejamento que advirá deste novo conselho é uma espécie de blindagem para a descontinuidade com a troca de partidos ou prefeitos no Executivo. Forma-se um pacto e os chefes de executivo devem assinar um termo comprometendo-se a perseguir as metas estipuladas.

TÚNEIS, CRECHES OU…

Na prática, é preciso tentar prever, por exemplo, quantos cidadãos Bento Gonçalves terá daqui a 20 anos. Que faixa etária eles terão? Hoje a demanda é por creches, No futuro será por lares para a terceira idade? Então é necessário que as creches sejam construídas de forma a, com custo mínimo, serem adequadas para atender este outro público.

Para que construir túneis e ruas mais largas se for mais barato optar por automóveis de uso coletivo? uma tendência que se avizinha.

Barros citou exemplos que levaram a cidade que dirigiu por oito anos no passado recente: com auxílio de drones, numa iniciativa de fácil execução e barata, a planta predial da cidade foi corrigida e foram constatados 350 mil metros de área construída não declarados. Desta forma a receita de IPTU aumentou significativamente. “Os primeiros que notaram o carnê aumentar em até 200% foram reclamar na Prefeitura, aí comprovamos aumento da área construída e passamos a cobrar retroativamente os últimos cinco anos. E fizemos a comunidade saber. Logo, ninguém mais reclamou e pagou o que devia sem discussão”.

Outro exemplo significativo foi por iniciativa da Associação comercial de Maringá. O presidente é dono de uma rede de supermercados e colocou à disposição do Executivo a empresa que cuidava do centro de distribuição da rede supermercadista. Logo se constatou que a Prefeitura e suas secretarias possuíam 17 almoxarifados. “Construímos um único almoxarifado, o que tornou as compras mais racionais e baratas. Economizamos muito. Mas lógico que houve resistência interna. Ninguém queria perder o poder de gerir o seu próprio material”, observou.

No entender de Barros, a aquiescência e até o entusiasmo do prefeito Guilherme Pasin devem servir de estímulo para que o Conselho proposto seja posto em prática nestes três anos de mandato que lhe restam.

De Bacco preside a Ascon Vinhedos

CIDADES SÃO LABORATÓRIOS PARA MELHORAR A QUALIDADE DE VIDA

A jornalista Natalia Garcia se especializou nos últimos dez anos estudando cidades sustentáveis e inovações urbanas que buscaram dar qualidade de vida às suas populações. Neste contexto, leu muito e viajou muito. Ela foi a primeira palestrante na noite de quinta-feira, trazendo, além de exemplos, embasamento teórico ao que pretende o projeto O Futuro da Minha Cidade. “Temos muita conversa sobre adensamento e crescimento e esquecemos de melhorar a qualidade da vida, a nossa escala é a humana”.

A jornalista ensina que é preciso definir que tipo de cidade se quer e que esta não pode ser só aquele espaço que se percorre no menor tempo do lugar em que se mora àquele em que se trabalha. Se em 1980 os espaços urbanos abrigavam 39% da população mundial, este percentual chegou a 54% em 2015 e se estima que em 2050 será de 66%.

Natália cita a escritora Jane Jacobs ao defender que as cidades são plataformas importantes para inovações; mas não esquece de citar a corrente que defende os espaços urbanos como buracos negros virados em problemas e que põem em risco a vida humana.

Ainda no campo da teoria, o desenvolvimento econômico pressupõe que a cada atividade surjam novas atividades capazes de gerar trabalho e renda. Ela cita os “parklets”, pequenos espaços juntos às ruas transformados em minipraças em que é possível um artista se apresentar. Além do artista, quem monitora o espaço e quem prevê a programação deles acabam se ocupando.

Natália Garcia lembra ainda que cada cidade deve explorar a sua vocação e traz exemplos:

1) No Óregon, estado americano em que florescem as milenares e gigantes sequoias, o dinheiro ganho num concurso do qual o parque participou não foi utilizado na floresta, mas no desenvolvimento e construção de um prédio só com materiais alternativos. Desta forma se privilegiou a conservação da natureza.

2) Em Portland (EUA) uma cidade muito chuvosa, foi desenvolvido um concreto permeável para cobrir as ruas e desta forma minimizar os efeitos da chuva. A fórmula vem sendo exportada para todo o mundo.

3) Em Berlim, com a queda do muro e o fim da guerra fria, a população pressionou e o antigo aeroporto da Berlim Ocidental foi desativado mas não destruído. Passou a ser utilizado como parque pela população. “Sei que em Bento Gonçalves, em pouco tempo uma área nobre e central que é a do presídio, ficará disponível. A cidade já sabe o que será feito no local”? Provocou a estudiosa.