Bento Gonçalves

Setor moveleiro avança no mercado externo, mas sonha com recuperação interna

O último trimestre tende a salvar o ano, mas diretores de indústrias moveleiros esperam muito mais de 2020 e acreditam que o pior ficou para trás

Setor moveleiro avança no mercado externo, mas sonha com recuperação interna

Crescimento nominal de 1%. Esta é a expectativa que já em julho, quando do Congresso da Movergs , o setor moveleiro tinha e ainda manem para o fechamento do ano. E quando se fala em crescimento nominal, sempre é bom lembrar, não está considerada a inflação dos insumos. O IPCA, por exemplo, deve fechar 2019 com algo em torno de 2,8%.

Mas quando se fala em exportações, bem aí a conversa muda de figura e há um consenso: quem apostou no mercado externo se beneficiou da alta do dólar em relação ao real e também a um cada vez mais sólido reconhecimento do móvel brasileiro no exterior. Um número dá a real proporção do negócio: em novembro o país exportou 10,1% a mais, ou um total de U$ 19 milhões – mais de 80% deste montante saiu das indústrias dos três estados do Sul.

O Leouvê ouviu dois dos mais importantes representante dos setor moveleiro do Estado para um balanço do ano. Rogério Francio acaba de ser reconduzido à presidência da Movergs – Associação das Indústrias de Móveis do Rio Grande do Sul e Vinicius Benini que completou um ano à frente do Sindicato das Indústrias de Móveis de Bento Gonçalves, o Sindmóveis.

Os números e a sensação do mercado não dá margem a discordância: depois de um primeiro semestre muito ruim, o mês de setembro apresentou uma espécie de ´soluço` e novembro se apresentou como o melhor mês em faturamento dos últimos anos. Assim, como em anos anteriores, a expectativa para o ano que se avizinha é de otimismo por uma retomada da atividade com vigor e constante.

CRISE OBRIGA A REVER PROCEDIMENTOS

Para Francio, é nítido este sentimento de frustração que o ano vai deixando porque, mais uma vez, as empresas tinham sinais de que 2019 seria um ano bom. “Não foi. Foi muito difícil. Se esperava que com o andamento das reformas a confiança e por conseguinte o consumo, voltaria. São quatro, cinco anos de muito sofrimento. E claro, muitos fizeram o dever de casa e enxugaram custos, revisaram processos, mas teve gente buscando recuperação judicial. O setor tem muitas empresas pequenas que sofrem mais nestes períodos”, descreve. Benini concorda mas faz uma ressalva: “cada um com suas peculiaridades, sofreram os pequenos, os médios e os grandes negócios”.

Mas há uma metade do copo cheio. O que salvou o ano para muitas empresas foram as exportações. O câmbio favorável, com a maior apreciação histórica do dólar, garantiu o equilíbrio e sobrevivência para algumas empresas. Além do câmbio favorável, o móvel brasileiro já é reconhecido no exterior. Desta forma o dólar alto também ajudou as empresas a equacionar uma outra questão: não havia e não há ainda espaço para reajustar preços e repor a inflação no mercado interno. “O varejo e o consumidor brasileiro mão estão dispostos a pagar este aumento”, faz notar Rogério Francio.

A esperança que ressurge neste último trimestre é dita em tom baixo, afinal, havia expectativa positiva em relação a 2019 que acabou não se confirmando: “a gente não sabe se este aquecimento de setembro até agora é um espasmo. Esperamos que não. Mas certamente as ações pré black friday e pós black fridey, mais o Natal e a queima de estoque pós Natal, sem dúvida agitaram o varejo e ajudara as empresas de móveis seriados a produzir”.

A indústria de móveis planejados também foi muito afetada e ainda carece de um prazo maior para recuperação. “O cliente deste tipo de ramo sofreu muito. É o pessoal que compra casa nova. Como a construção civil deu uma parada geral, o setor moveleiro mergulhou junto”. Aqui o presidente da Movergs faz uma referência sempre lembrada por quem é o do setor: a indústria moveleira é das primeiras a sentir a chegada de uma crise e sempre reage bem mais tarde na hora da retomada.

MOVELSUL NO HORIZONTE

Em menos de 90 dias, no mês de março, vai se realizar mais uma edição da Movelsul, vista pelo presidente do Sindmóveis como o seu maior desafio frente a entidade e aguardada para ser o ponto da retomada. “Nós vemos assim, a feira tende a ser um divisor para que os negócios voltem a acontecer”. Benini se embasa em pesquisas que mostram ser este – depois de 2013, ano em que a derrocada iniciou – o momento da volta à superfície. “Há sinais para tanto, as reformas iniciaram, não há crise política no cenário e a economia obedece a ciclos. Pensamos que o pior ficou para trás”

Nestes últimos seis anos empresas diminuíram de tamanho, enxugaram gastos e, sim, demitiram.No próprio Sindmóveis, que congrega 300 empresas em Bento e microrregião, houve aperto no cinto. “Quando as coisas vão bem a gente acaba empurranDo desperdícios para trás da porta. . Mas na hora da crise vamos para a ponta do lápis e fazemos os ajuste necessários para sobreviver”, ensina Benini, de apenas 32 anos. O próprio presidente viveu um período de transformações quando há dois anos se tornou proprietário e gestor da marca Pozza, de passado fulgurante que que há décadas vinha enfrentando problemas. “Precisamos de um ano para entender bem a situação e colocar nosso ritmo em andamento. Foi preciso demitir quem não se adequou à nova gestão. Agora já colhemos os frutos das medidas adotadas”, revela.

7,7% PEÇAS A MAIS

O relatório ‘Conjuntura e comércio externo do setor de móveis no Brasil,’ com dados de outubro e novembro, encomendado pela Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs) e produzido pelo IEMI – Inteligência de Mercado, demonstra que a produção de móveis no estado do Rio Grande do Sul, no mês de outubro, foi de 8,9 milhões de peças, representando aumento de 7,7% em relação ao mês anterior.

No acumulado no ano, comparado com o mesmo período de 2018, a produção industrial no Estado cresceu 3,1%, resultado superior ao registrado na indústria nacional no mesmo período. Nos últimos 12 meses, a indústria gaúcha cresceu 4,0%, enquanto a indústria nacional se retraiu no mesmo período, de acordo com números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Exportações

Diferentemente de outubro, quando as exportações recuaram 2,3%, em novembro a alta foi positiva com avanço de 10,1%, somando US$ 19,0 milhões. Os três estados da região Sul: Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná, juntos, foram responsáveis por 85,3% dos valores exportados no mês de novembro. O estado de São Paulo vem logo a seguir, com 10,5% dos valores exportados.

Quanto aos países de destino das exportações de móveis do Rio Grande do Sul em novembro, os Estados Unidos aparecem em primeiro lugar, com 18,0%; seguido pelo Uruguai, com 17,0%; e Peru, com 12,1%. Destaca-se também o crescimento de 81,7% da Colômbia em relação ao mês anterior.

Consumo aparente

Com relação ao consumo aparente de móveis no Estado, o volume foi de 8,0 milhões de peças em novembro, avanço de 9,8% em relação ao consumo que foi registrado no mês anterior. Na variação dos últimos 12 meses houve avanço de 0,5%.

Fotos da Assessoria