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Sérgio Moro elogia STF e faz balanço da Operação Lava-Jato em Porto Alegre

Sérgio Moro elogia STF e faz balanço da Operação Lava-Jato em Porto Alegre


Em seu primeiro compromisso público após decretar a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na quinta-feira, dia 5, o juiz Sérgio Moro foi o centro de todas as atenções ao participar de duas atividades no Fórum da Liberdade, encerrado nesta terça-feira, dia 10, em Porto Alegre. Com uma diferença de cerca de sete horas entre os dois eventos, Moro elogiou a postura da ministra Rosa Weber e a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em negar o habeas corpus ao ex-presidente pela manhã, na Arena da Liberdade, na área VIP do fórum, e à noite resumiu a Operação Lava-Jato para cerca de três mil pessoas que lotaram o anfiteatro do Centro de Convenções da PUC.

“Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal proferiu decisão muito importante. Não me refiro ao caso concreto do ex-presidente. Foi mais uma vez o apego ao princípio de que, e há toda uma discussão em torno disso, o princípio da presunção de inocência não pode ser interpretado como garantia da impunidade dos poderosos”, disse, antes de ser muito aplaudido.

Ao citar o voto de Rosa Weber, Moro lembrou que “ela não fala com a imprensa”, e afirmou que acredita que “no fundo ela está certa e a maioria errada”, disse o juiz, recebendo como resposta sonoras risadas. Moro foi além e disse: “inclusive eu aqui”. A resposta foi mais risadas. Menos da imprensa, que ao longo de todo o evento não conseguiu tirar uma palavra do juiz.

Juiz Sérgio Moro foi aplaudido de pé no final de sua fala no Fórum da Liberdade (Foto: Rogério Costa Arantes)

À noite, o foco foi a Operação Lava-Jato. Em pouco mais de 20 minutos, o juiz resumiu o escândalo que causou um prejuízo calculado em R$ 6 bilhões para a Petrobras e resultou em 104 mandados de prisão temporária, 97 mandados de prisão preventiva e seis prisões em flagrante ao longo de quatro anos, e que, até o momento, está em sai 50ª fase e resultou na condenação em duas instâncias de um ex-presidente.

Moro foi aplaudido de pé quando entrou no anfiteatro, teve que parar de falar ao ser interrompido por aplausos em diversas vezes e recebeu nova ovação ao encerrar a palestra. Mesmo sem citar o nome de Lula, Moro voltou a elogiar a decisão do STF que negou o habeas corpus ao ex-presidente.

“Fiquei muito feliz com o julgamento no Supremo, não pelo caso especialmente, mas pela ideia de que o princípio de inocência não pode se refletir em impunidade de poderosos. É claro que todos têm direito de defesa. Ninguém quer que um inocente seja condenado. Mas não pode haver um sistema em que pessoas permaneçam impunes só por terem condições de manipular o sistema. O Supremo evitou um grande retrocesso”, afirmou sob aplausos.

Manifestantes protestaram contra a presença de Moro

Mas a noite não reservou apenas aplausos ao magistrado. Um grupo de estudantes ligados ao movimento estudantil gritava palavras de ordem contra o juiz, referindo-se a ele como “golpista”. Os manifestantes carregavam cartazes com mensagens a favor da libertação de Lula e outros com “Fora Moro”. Muitos jovens ligados a movimentos contrários ao ex-presidente deixaram o painel onde Moro palestrava para reprimir o avanço do grupo favorável ao ex-presidente. Eles chegaram a deixar o local e houve um princípio de enfrentamento no pátio da universidade.

Moro seguiu avaliando os resultados da operação que, segundo ele, revelou um esquema de “corrupção sistêmica” na Petrobras, e garantiu que a saída para o país não passa por “soluções autoritárias”.  Para ele, os problemas da democracia brasileira precisam ser resolvidos “aumentando a qualidade da nossa democracia”.

“O país criou um ambiente institucional que favorece a corrupção tanto no setor público quanto no privado”, sintetizou.

Na sequência, o promotor italiano Antonio di Pietro, que participou da Operação Mãos Limpas, que combateu a máfia italiana e seus escândalos de corrupção na política local, elogiou o combate à corrupção no país, exemplificou o que ocorreu na Itália e apontou algumas semelhanças com o que ocorre no país. Ele usou o nome do ex-presidente brasileiro ao se referir à corrupção governamental italiana. Di Pietro disse que é preciso respeitar as leis e que espera que “as coisas melhorem” no país.

“Hoje, os jovens têm de se perguntar se podem vencer seus concorrentes enganando-os. Se fizerem isso, sempre haverá alguém enganando eles também”, ensinou o italiano.

Além dele, outro italiano participou do painel. O professor de Ciência Política e PhD em Teoria Política e Econômica pela Universidade de Gênova, Adriano Gianturco disse acreditar que o Brasil tem leis em excesso, que, segundo ele, precisam funcionalidade. Para ele, é preciso para de esperar um “salvador da pátria”. “Não haverá um salvador da pátria. É o carro que tem de ser trocado, e não só o motorista”, exemplificou.