Últimas notícias

A saúde, a terceirização e a lógica do mercado

A saúde, a terceirização e a lógica do mercado

Não é de hoje que a terceirização de serviços de saúde tem sido apontada como uma solução pros problemas crônicos que a população enfrenta com a precariedade dos serviços. Depois da reforma trabalhista, a saída ganha ainda mais força em todo o país.

Na Serra Gaúcha não é diferente: em Bento Gonçalves, por exemplo, a experiência com a terceirização de médicos vem de longe e tem pontos positivos e negativos, mas a cidade quer agora ampliar a experiência para o Samu e para a gestão do futuro hospital público.

Em Caxias do Sul, depois da terceirização que serviu como única alternativa pra tão esperada abertura da UPA zona norte, agora o governo quer terceirizar também a gestão do Postão, e a chiadeira já começou.

A justificativa é nobre: melhorar e ampliar o atendimento nas unidades básicas realocando os servidores e terceirizando a urgência e emergência.

As pessoas que dependem da rede municipal aprovam a medida, porque pra elas o mais importante é serem atendidas, mas é evidente que a saída é mais uma demonstração da fragilidade desse setor vital da administração, despreparado para enfrentar o aumento da demanda pelo atendimento, e por isso é evidente que a terceirização se torna uma alternativa em consequência das notórias deficiências da rede municipal, que mal consegue manter um atendimento que já deixa a desejar.

Os municípios sofrem com concursos sem interessados porque oferecem salários baixos, os repasses da união e dos estados não garantem o pagamento das despesas e acaba sobrando pros já combalidos cofres municipais.

O fato é que a terceirização pode ter bastante utilidade, e não faltam exemplos de serviços públicos terceirizados que funcionam, e isso pode funcionar também na saúde pública, porque não?

Parcerias com entidades de ensino, associações comunitárias, organizações não governamentais e até mesmo grupos privados podem ser positivas, desde que todos saiam ganhando, principalmente a comunidade.

Mas, pra isso dar certo, é preciso reverter a lógica que movimenta o mercado, que trata a saúde como fonte de lucro, e por isso é preciso levar em conta que o modelo privado de assistência médica, com todas estas distorções, não serve de exemplo para nenhum outro serviço.

Quem tem seguro saúde ou convênios de saúde e que enfrentam verdadeiros cardápios de doenças que nunca poderão ter, limitações do número de consultas e exames, ou filas de espera tão longas quanto e, por vezes, até maiores que às do serviço público, sabem muito bem do que estou falando.

Por conta disso, a ideia de que o serviço de saúde privado é melhor do que o público não tem a mínima sustentação. A verdade é que, antes de simplesmente terceirizar, precisamos propor novos modelos de gestão para os serviços públicos, que os tornem mais ágeis e resolutivos.