Opinião

Saiba porque o preço da gasolina poderia dobrar até o final do ano

Leonardo Bertelli Piveta
Leonardo Bertelli Piveta

Há cerca de duas semanas após um artigo meu aqui no portal falando sobre um apagão eminente na Europa e suas consequências. Uma série de acontecimentos tem mostrado que a situação está caminhando para um cenário difícil e bem parecido com o qual eu descrevi.

A Europa é dependente do gás e petróleo russo. A Alemanha é o país que mais está sendo afetado pelo fechamento do fluxo de gás. A economia alemã tem sido atingida fortemente pela escalada dos custos ao produtor, nos últimos doze meses, supera 30% de alta. Os preços de produtores de papel higiênico, por exemplo, explodiram quase 170%. Rússia e China são apontados como os grandes ganhadores. Segundo afirmações da Nikkei Report, traders chineses estão revendendo gás russo para a Europa e obtendo altos lucros.

Os governantes europeus parecem perdidos. Na reunião dos ministros de energia, eles afirmaram que estabelecerão um preço máximo para as commodities russas. Claro que não combinaram com os russos. O presidente Putin afirmou que limitar o preço é quebrar o contrato, o que significa que este não será mais cumprido. Paralelamente, a empresa russa que fornece gás, a Gazprom, lançou um vídeo que mostra a Europa congelando. Assustador.

A Europa está encurralada, não apenas porque as alternativas para solucionar as questões energéticas são limitadas, mas, sobretudo, porque seus líderes não sabem como agir. Por exemplo, o governo da Suíça criou regras para uso do gás pelos seus cidadãos. O descumprimento pode significar multa ou até cadeia. Uma medida desesperada, feita por políticos desesperados.

Enquanto isso, os preços da energia elétrica e do gás seguem altos. O petróleo é a commodity energética que tem destoado um pouco, depois do fim de algumas tensões no oriente médio e o possível acordo com o Irã, ele tem caído e já se encontra abaixo dos 85 dólares por barril. O motivo dessa recente queda é a expectativa de uma baixa na demanda em função da recessão que está por vir. Boatos no mercado afirmam que a Arábia Saudita está sendo pressionada a manter o petróleo acima dos 100 dólares cortando, para isso, sua produção.

Empresas também parecem estar se preparando para um cenário difícil, sem energia. Presidentes de empresas alemãs produtoras de metal afirmaram que estão preocupados com o próximo inverno e as consequências sobre a indústria. Enquanto na Inglaterra o maior distribuidor de gás, Centrica, solicitou ajuda financeira de curto prazo no caso de situação energética ficar mais crítica. O Goldman Sachs, por sua vez, prevê que os gastos com energia tornar-se-ão 15% do PIB da União Europeia, algo em torno de 2 trilhões de Euros, 200% acima do valor de 2021.

Portanto, é possível que vejamos os preços do gás natural na Europa explodirem, atingindo níveis que forçarão empresas a fecharem as portas, famílias desligarem seus aquecedores e lâmpadas. A quebra de empresas causaria desemprego, forte recessão, os governantes seriam cobrados, as tensões com a Rússia poderiam aumentar de maneira que um confronto bélico fosse inevitável. Além disso, os preços das demais commodities energéticas acompanhariam o movimento do gás, não me surpreenderia em ver o petróleo acima dos US$145,00. Os preços da energia no mundo e, principalmente, no Brasil andariam junto. Assim, seria possível ver o botijão de gás passando dos 160 reais e a gasolina dos 10 reais ao litro. Nenhum país passaria ileso. Apesar de saber que descrevo aqui o pior cenário, acredito que nós brasileiros sofreremos bem menos numa situação extrema. Meu intuito não é alarmar, porém aprendi trabalhando no mercado financeiro que se preparar para o pior e considerar todos riscos é a melhor maneira para passar por momento conturbados.