Comportamento

Saiba o que pode estar causando o aumento de casos de Covid-19 no RS

Governo do Estado emitiu avisos às 21 regiões Covid-19 alertando para a aceleração dos casos em maio

(Foto: Guilherme Almeida / Divulgação)
(Foto: Guilherme Almeida / Divulgação)

Dois meses após a publicação do decreto que desobriga o uso de máscara para circulação ou permanência em vias públicas ou em espaços públicos ou privados ao ar livre, o Rio Grande do Sul voltou a registrar aumento de internações em leitos clínicos e de terapia intensiva por conta do novo coronavírus. A flexibilização das medidas não farmacológicas, a redução do ritmo de vacinação e a baixa adesão da população às doses de reforço são apontadas como as causas para o crescimento das hospitalizações. Diante do cenário atual, na quarta-feira o governo do Estado emitiu avisos às 21 regiões Covid-19 alertando para a aceleração dos casos em maio.

Até o início da tarde desta quinta-feira, de acordo com a Secretaria Estadual da Saúde (SES), 401 pacientes estavam internados em leitos clínicos com diagnóstico para a Covid-19, o que representa elevação de 65,2% em duas semanas e o maior número em dois meses. Desde 13 de março deste ano, quando havia 429 pacientes com Covid-19, o RS não registrava mais de 400 internações por conta da doença em leitos clínicos. O coordenador do Grupo de Trabalho (GT) Protocolos do Gabinete de Crise do RS, Bruno Naundorf, afirma que as flexibilizações podem estar por trás da aceleração de casos. “A liberação de máscaras pode contribuir para o aumento”, explica.

Além de ressaltar que apenas 50% da população tomou as doses de reforço, Naundorf sustenta que o crescimento de casos e internações “são dois pontos bem sensíveis” de indicadores que precisam ser acompanhados e cabe a cada região redobrar a atenção no combate à pandemia. As internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) também apresentavam crescimento, com 103 casos confirmados – maior número desde 5 de abril, quando havia 105 pacientes. “É um ponto bem importante de ser avaliado. A gente tem que entender o contexto, o momento que a gente está vivendo, porque está tendo uma elevação tanto de (internações) UTIs quanto de pacientes em leitos clínicos”, observa.

Mesmo com crescimento dos casos confirmados e internações, Naundorf descarta, por ora, a possibilidade de uma nova onda da doença no Estado. “Aparentemente não teve alteração de vírus, uma modificação. Não tem uma nova variante circulando”, completa. Ele reforça o apelo para que pessoas com sintomas de Covid-19 ou que tenham contato com alguém diagnosticado com a doença mantenham isolamento ou utilizem máscara de proteção. O infectologista André Luiz Machado, que atua no Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC), afirma que o aumento reflete a flexibilização das medidas não farmacológicas, o “favorecimento a aglomerações” e a desobrigatoriedade do uso de máscaras em espaços públicos.

Machado atribui ainda o crescimento de casos ao relaxamento por parte da população quanto aos cuidados no dia a dia. “Esse aumento também do número de casos coincide com a diminuição das nossas temperaturas, favorecendo mais a aglomeração em espaços fechados e pouco ventilados. E também temos a circulação de outros vírus respiratórios concomitante ao SARS-CoV-2, o que aumenta o caso de pessoas sintomáticas. Esse comportamento da população, na minha opinião, é o principal fator que contribui para o aumento do número de casos”, destaca.

O especialista alerta para o crescimento de casos de reinfecção, com pessoas que contraíram a doença em janeiro e fevereiro testaram novamente positivo. “Não temos dados fechados quanto a porcentagem da população que está se reinfectando pela Ômicron num espaço mais curto de tempo, mas dados da literatura já vinham demonstrando que a imunidade ativa, que é aquela imunidade desencadeada pós-doença pela Ômicron, é mais fugaz e dura menos tempo do que se viu em relação anteriores”, explica. Talvez esse também seja um dos motivos pra que tenhamos um aumento do número de casos, que seria essa imunidade ativa mais fraca em relação à Ômicron. E também associado a isso a baixa adesão da população quanto a fazer a dose de reforço da vacina”, completa.

Ele salienta que a vacinação acelerada das primeiras doses contribui para evitar um cenário pior no Estado, mas cobra maior mobilização dos governos estadual e municipal para imunizar a população com a dose de reforço. Machado ressalta que a vacina ajuda a diminuir o número de casos graves. “Ainda não temos um aumento no número de casos graves. A gente espera que isso não aconteça por causa da vacina, mas essa proteção desencadeada pela vacina também tem a sua força, a sua performance diminuída com o passar dos meses. Então é importante que a população reconheça a necessidade da terceira dose”, alerta.

Sobre a possibilidade de o Estado enfrentar uma nova onda de Covid-19, ele avalia que é cedo para falar sobre isso. “Não acredito que vamos ter novamente uma situação como tivemos no ano passado, em janeiro e abril, quando houve aquele aquele aumento expressivo do número de casos graves. Acredito que isso não vai acontecer”, frisa. Ele ressalta, no entanto, que o número de casos de infecções respiratórias “por outros agentes etiológicos” apresentou aumento expressivo, principalmente entre crianças. “É uma população que está suscetível. Aqueles com menos de 5 anos ainda não podem ser vacinados, mas também estão suscetíveis a outras infecções respiratórias de outras etiologias”, frisa.

Fonte: Correio do Povo