Bento Gonçalves

Safra da Uva: Desafios climáticos causam diminuição na produção e demandam cuidados extras no tratamento das videiras, em Bento Gonçalves

Estimativa de quebra de safra varia de 10 a 50% em relação ao ano passado, de acordo com os especialistas entrevistados; Carga de tratamento mais que dobrou

Foto: Ilustrativa/Arquivo Leouve
Foto: Ilustrativa/Arquivo Leouve


A Safra da Uva 2023-2024 enfrenta desafios significativos devido a condições climáticas adversas, marcadas por muita chuva e umidade, que impactam não apenas a quantidade, mas também a qualidade das uvas cultivadas.

O Pesquisador Henrique Pessoa dos Santos, da Embrapa, destacou quais os três principais fatores que impactam negativamente a produção e a qualidade das uvas:

1) Condições climáticas contrastantes

Henrique mencionou a influência do El Niño na safra atual, que representa uma mudança considerável em relação aos três anos anteriores. Ele salientou que esses anos anteriores foram caracterizados por secas, o que é anormal para essa época, o que contrasta com a atual safra mais próxima do normal em termos de chuvas.

“Claro que o El Niño aumenta muito essa condição e aí acaba, claro, impactando a safra. Mas o que eu queria dizer é que a safra é um combinado de fatores negativos inicialmente em relação à produtividade, e esse impacto já iniciou no ano passado, porque nós tivemos geadas que chegaram a ocorrer até em novembro do ano passado e impactaram negativamente o número de cachos por planta deste ciclo”, contemporiza.

2) Inverno com restrição de frio

O inverno deste ano apresentou uma quantidade significativamente menor de horas de frio do que o normal na região, afetando a brotação das plantas, tornando-a irregular e impactando a floração e maturação das uvas.

3) Excesso de chuvas

O período de setembro a novembro registrou um excesso significativo de chuvas, cerca de três vezes a média dos últimos três anos. Esse excesso impactou negativamente a polinização das videiras, reduzindo o número de bagas por caixa e favorecendo o surgimento de doenças fúngicas, comprometendo a produtividade e a qualidade das uvas.

Henrique estima uma quebra na produtividade de cerca de 30% a 50% em comparação com anos anteriores, principalmente devido aos fatores climáticos mencionados. Quanto à previsão futura, Henrique destacou que as condições de chuva continuam acima da média até fevereiro e março, o que pode impactar negativamente a qualidade das uvas.

Cuidados Essenciais

O pesquisador recomendou cuidados extras e estratégias para lidar com os desafios climáticos e garantir uma produção mais estável e com melhor qualidade. “O produtor precisa ter cuidado na rotação de produtos e uma intensidade maior de cuidado com a poda verde, para tentar minimizar esses impactos negativos que o excesso de chuva provocado pela condição do El Ninho pode induzir”, destaca ele.

Produção no Vale dos Vinhedos

Em relação à quebra de safra, Moisés Brandelli, Diretor Técnico da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), ressalta que “a análise neste estágio demanda cautela, pois diversos fatores podem influenciar seu desenvolvimento futuro. A percepção de cachos mais ralos sugere uma possível diminuição na produção, entretanto, a qualidade das uvas pode beneficiar-se desse raleio natural”.

Moisés destaca que o sucesso nos tratamentos aplicados pelos produtores torna-se um fator determinante para assegurar a qualidade da safra, mesmo diante das incertezas associadas à redução na quantidade de cachos. “Se fosse estimar uma quebra, estimaria de 10 a 15% em relação ao ano passado”, complementa.

Custos de Produção

Indo ao encontro do pesquisador da Embrapa, o diretor da Aprovale ressalta que “ao longo dos últimos seis anos, a região experimentou períodos notavelmente secos, porém, o cenário atual apresenta uma inversão marcante, caracterizada por um excesso de umidade”.

Esse desvio climático requer uma adaptação significativa na gestão dos vinhedos, especialmente no que se refere aos tratamentos fitossanitários. Em comparação com o ano anterior, a necessidade mais que dobrou, impactando diretamente nos custos de produção.

Chuvas

Conforme Brandelli, “curiosamente, as chuvas excessivas durante a floração resultaram em um fenômeno interessante: um raleio natural dos cachos”. Isso resultou em uma produção mais espaçada, o que, apesar de diminuir a quantidade, teve impactos positivos.

Essa redução na densidade dos cachos não só favoreceu a produção, mas também melhorou a saúde das uvas, tornando-as menos propensas a doenças, especialmente em períodos chuvosos prolongados.

Estoques de Vinho

Até agora, as evidências sugerem que a redução na produção não é suficiente para causar uma grande queda nos estoques dos produtores de vinho. Para o membro da Aprovale, apesar das dificuldades causadas por condições climáticas variáveis, a queda na colheita não parece ser tão grave a ponto de afetar significativamente o fornecimento de vinho.