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A roleta do desarmamento

A roleta do desarmamento

O atentado desta semana, provocado por um assassino em série nos Estados Unidos, que deixou um rastro de 58 mortes e mais de cinco centenas de feridos, reabre a ferida que nunca cicatriza na terra onde quem sacar primeiro é o vencedor.

Afinal de contas, o acesso facilitado às armas protege o cidadão ou expõe ainda mais a violência na sociedade?

Nos Estados Unidos, que já nasceram com a mão no coldre, prontos para sacar o colt 45, as famílias têm armas em casa, dão armas de brinquedo aos filhos e, quando eles crescem, ensinam a atirar com armas de verdade. Simples assim.

É claro que ter o direito de portar uma arma de fogo para garantir a própria defesa parece razoável. Afinal de contas, os americanos fazem isso, né? E parece evidente que o contrário – ser proibido de andar armado – é conferir aos bandidos uma vantagem a mais: a certeza de estar diante de alguém desarmado.

É claro que não dá pra comparar. Lá nos esteites, são 270 milhões de armas legalizadas, enquanto aqui na pindorama esse número passa pouco das 15 milhões de armas legais.

Só o atirador de Las Vegas tinha quase 20 fuzis no quarto do hotel, de onde disparou contra mais de 20 mil pessoas que se divertiam num show, e tinha mais de 40 armas em casa.

E aí é que o tiro sai pela culatra:

Nos últimos 10 anos, mais de 70 mil registros de armas foram concedidos a pessoas comuns no Brasil, e mais de 500 mil armas foram vendidas no país. 

Não há como medir benefícios, não há em que medida os cidadãos ficaram mais protegidos.

O que se sabe é que nem por isso a criminalidade diminuiu.

Ao contrário. Além disso, muitas dessas armas legalizadas acabaram nas mãos dos bandidos.

Além disso, não dá pra esquecer que o cidadão honesto, em geral sem prática para manusear um revólver e sem o mesmo sangue-frio dos bandidos, pode sim virar a próxima vítima.

Ou ainda virar um criminoso ao disparar contra outra pessoa num momento de cabeça quente, dando desfecho trágico a uma discussão qualquer.

Em uma época em que volta ao debate com força o estatuto do desarmamento, o debate é importante. É evidente que quem comete o crime não é a arma, mas o criminoso, mas nada é tão simples quanto parece.

O certo é que, se armar o cidadão não é a saída pra reduzir a criminalidade, impedir o acesso a uma arma pode ser ainda mais perigoso. O que é preciso é fiscalização e policiamento, responsabilidade e treinamento. Mas, mais que tudo isso, é preciso bom senso.