Você já se imaginou visitando um museu sem sair do conforto da sua casa? Ou, ainda, ter a chance de conhecer curadores e especialistas enquanto eles explicam detalhes ocultos em uma pintura renascentista ou revelam histórias intrigantes por trás de artefatos antigos e “sorrisos enigmáticos” como o da Mona Lisa, icônico quadro de Leonardo da Vinci que até hoje intriga gerações gerando debates intermináveis? Bem, isso não é mais um sonho distante, mas uma realidade crescente graças ao poder das redes sociais como Instagram, TikTok, YouTube e Facebook. Na era da informação rápida e da conexão constante, nossos hábitos culturais e formas de interagir com o mundo ao nosso redor estão passando por uma transformação profunda.
Um exemplo cativante dessa mudança é o cenário dos museus, que há muito deixaram de ser apenas espaços físicos repletos de obras de arte e artefatos históricos. Agora, eles também estendem-se ao vasto mundo digital, aproveitando as oportunidades oferecidas pelas redes sociais e outras plataformas online para alcançar um público global, diversificado e cada vez mais conectado.
Lançado há mais de uma década, o Instagram rapidamente se tornou uma plataforma de compartilhamento de fotos e vídeos que abriga uma comunidade de mais de 1 bilhão de usuários ativos mensais. Sua utilidade não se limita apenas a fotos de comida e selfies. Museus de renome mundial estão aproveitando essa plataforma para se conectar com o público de maneiras inovadoras e interativas, extrapolando não apenas os espaços físicos, mas também suas presenças digitais. Se num primeiro momento os edifícios que abrigam coleções museográficas adotaram arquiteturas icônicas a partir de design único para criar experiências memoráveis e atrair visitantes provocando interesse e admiração, por outro lado, a ascensão dos espaços “instagramáveis” está relacionada a essa tendência.
Nela, os visitantes compartilham suas experiências online e ampliam o alcance e impacto cultural, formando um marketing orgânico capaz de atrair e ampliar o público por meio de uma audiência diversificada e conectada. Hoje, questões como identidade e imagem cultural vêm desafiando o mercado da produção cultural.
Outra questão que vem desafiando gestores culturais é a associação entre a imagem e identidade cultural dos espaços físicos do museu e sua presença transmídia. Antes de ser tratada como problema, a sinergia poderosa que se cria na relação entre os dois espaços, físico e virtual, permite a preservação da autenticidade do museu enquanto se adapta sua narrativa para plataformas digitais, possibilitando que um público global, diversificado e antes ausente das atividades desenvolvidas em museus se envolva com a riqueza cultural e artística que este oferece.
O artigo Top Museums on Instagram: a network analysis, publicado na revista científica International Journal of Computational Methods in Heritage Science, analisou o desempenho das contas de Instagram dos 69 museus mais visitados globalmente (em 2019). Destes, 51 tinham contas no Instagram. O estudo verificou assimetrias em seguidores e contas seguidas foram registradas, indicando que alguns museus têm valores elevados e outros baixos e revelando um modelo assimétrico de relacionamentos. Isso significa que alguns museus têm muitas conexões (seguidores) em suas contas do Instagram, enquanto a maioria dos museus tem um número menor de conexões. Esse fenômeno sugere que alguns museus centrais são seguidos por museus menores, criando uma estrutura de rede em cascata ou de “escala livre”.
Os museus com maior número de seguidores e conexões vêm usando a estratégia transmídia para envolver e educar o público de maneira mais abrangente, indo além das paredes físicas dos espaços de exposição. Isso amplia a acessibilidade, alcance e imersão cultural, permitindo que mais pessoas tenham acesso ao conteúdo e às histórias oferecidas pelos museus num contexto em que a experiência do visitante busca para além da educação, oportunidades de recreação, lazer, socialização ou mesmo fuga da realidade maçante cotidiana por meio das interações em redes sociais.
Exemplos não faltam. O Museu de Arte Moderna (MoMA) emprega aplicativos móveis para tours, proporcionando áudios explicativos, vídeos e imagens que enriquecem a compreensão das obras durante e após a visita. O British Museum utiliza uma linha do tempo interativa para contextualizar peças históricas em diferentes períodos e culturas. O Smithsonian National Museum of Natural History cria histórias transmídia que se desdobram em vídeos, podcasts, artigos e atividades online. O Louvre lança vídeos detalhados online sobre suas obras e galerias. O Metropolitan Museum of Art expande suas exposições através de podcasts, vídeos, artigos, games, realidade aumentada, visitas virtuais, storytelling e discussões detalhadas, que enriquecem a experiência cultural estendendo-se para além do museu. Esse envolvimento multidimensional amplifica o alcance, conectando audiências variadas e tornando a cultura mais acessível e participativa.
Fenômeno recente é o surgimento de influenciadores culturais que emergiram nas redes sociais como figuras que aproveitam sua expertise para compartilhar conteúdo diversificado sobre arte, história e exposições, promovendo diálogos interativos entre diferentes plataformas. Como criadores de conteúdo, eles compartilham suas perspectivas e interpretações, enriquecendo a experiência e ampliando o alcance do museu por meio do uso de linguagem adequada a diferentes grupos sociais. E fazem sucesso. Ao entrelaçar o mundo digital com o mundo físico por meio do uso das redes sociais, os museus têm a oportunidade não apenas de se adaptar, mas também de prosperar nessa nova era de interação cultural enriquecendo e ampliando a nossa relação com a arte e a cultura no século XXI.
Fonte: Jovem Pan