“O que aprendemos com eventos climáticos extremos?”. Esse foi o tema da palestra do professor doutor Marcelo Dutra da Silva, da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), na RA CIC (reunião-almoço) desta segunda-feira (3) em Caxias do Sul.
O evento marcou a volta da reunião-almoço da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul desde o início da tragédia que assolou o Rio Grande do Sul no início de maio. Além disso, também foi a abertura da Semana Municipal do Meio Ambiente do município.
O professor abordou os crescentes desafios climáticos e suas implicações ecológicas e econômicas. Em sua apresentação, o especialista destacou que eventos climáticos como El Niño e La Niña têm ganhado força e explicou que o aquecimento global está alterando o comportamento climático, com temperaturas médias mais altas e invernos menos rigorosos. Ele atribuiu essas mudanças à crescente carbonização da atmosfera e enfatizou a necessidade de descarbonizar a economia. “O clima mudou. Toda iniciativa de descarbonização é bem-vinda. Precisamos criar um ambiente mais favorável ao investimento em fontes limpas de geração de energia“, afirmou, salientando que essas mudanças são globais, intensificadas nos últimos 50 anos.
” O poder público tem confiado demais que os riscos não são tão grandes, mas eles são. A gente tem avançado sobre as margens, áreas de encosta, terrenos baixos, planos e úmidos, e isso tem sido autorizado pelo poder publico. Empreendimentos belíssimos que, muitas vezes, são licenciados e que infelizmente estão no lugar errado. A gente precisa, para ser reais resilientes, investir pesado, vai custar caro, mas será barato se pensar no tempo que vamos evitar de perder no futuro“, afirmou.
Ainda sobre a situação do estado, Silva também enfatizou a importância do planejamento para áreas de risco e inundação, alertando que a sustentabilidade exige ações imediatas e mudanças na forma como lidamos com o futuro. O professor da FURG também analisou as mudanças nos oceanos e nos padrões de precipitação. Silva destacou que a precipitação no Rio Grande do Sul superou 1.000 mm, volume acima de qualquer média anterior. “Estamos reféns dessa mudança“, afirmou, destacando que muitas cidades no Rio Grande do Sul precisarão ser realocadas devido à ocupação de terrenos vulneráveis.
Para enfrentar esses desafios, Silva propôs medidas de prevenção e adaptação, como afastar áreas residenciais das margens e renaturalizar uma faixa segura de proteção; fortalecer as infraestruturas de contenção, os sistemas antienchentes e alagamentos; investir na manutenção das instalações preventivas e definir protocolos de atenção; revisar o Plano Diretor e as estratégias de crescimento urbano e desenvolvimento; rever os instrumentos de planejamento e implementar o Plano de Emergência Climática; e, por fim, “reconstruir dentro de uma nova lógica, bem mais inteligente”.
Silva também falou sobre a importância das práticas ESG (Ambiental, Social e Governança) nas estratégias de negócios. Ele destacou que, embora ESG já seja conhecida e praticada, a cadeia de negócios ainda enfrenta dificuldades em se adaptar totalmente a essa agenda.