A morte de Raul Anselmo Randon, confirmada às 21h deste sábado, dia 3 de março, em São Paulo, aos 88 anos, encerra uma trajetória que construiu um império que vai desde o campo até as fábricas pesadas. De certa maneira, Randon e suas empresas são um termômetro da economia de Caxias do Sul pelo menos nas últimas duas décadas.
O homem que, depois de criar com o irmão em 1949 a Randon, hoje um dos maiores grupos empresariais do país, com resultados expressivos em diversas atividades, responsável pela construção de um gigante no mercado de implementos rodoviários, multiplicou empreendimentos na agropecuária.
A frente do conselho do grupo, ele comandou o crescimento do conglomerado de empresas no segmento de veículos, e a expansão dos negócios com a criação da Rasip e da RAR, em aividades como o plantio de oliveiras e de maçãs, a produção de azeites, vinhos, queijos, carnes suínas e o cultivo de grãos. Os empreendimentos são numerosos e variados – e, segundo Randon, nasceram ao natural, sem qualquer tipo de planejamento prévio.
Os resultados são sempre superlativos. Dos tempos em que ajudava o pai, Abramo, na pequena fábrica de ferramentas agrícolas ao final da infância até hoje, Raul Randon criou 15 empresas, levou a Randon a se tornar uma das principais empresas no Rio Grande do Sul e a maior fabricante de caminhões fora de estrada de 30 toneladas no país, estar entre os 10 maiores produtores de semirreboques do mundo e ser um dos principais produtores de maçãs do país, processando em média de 50 mil toneladas da fruta, 10% destinadas à exportação.
A diversificação é a marca da trajetória de Randon. Depois de consolidar o grupo no mercado de veículos, desde 1979 o agronegócio vem representando fatias maiores do faturamento das empresas, e além da maçã, a Rasip hoje é líder na produção e comercialização do queijo tipo grana Gran Formaggio e derivados de leite – creme de leite, manteiga e queijo ralado. A empresa processa em média 25 mil litros de leite por dia, produzindo cerca de 650 toneladas de queijo, e
Nos últimos anos, surgiram os investimentos em oliveiras, azeites e uvas para a confecção de vinhos que nasce em uma parceria com a Miolo, uma das maiores produtoras de vinhos e espumantes da serra gaúcha que deram origem à RAR – das iniciais de Raul Anselmo Randon, que em pouco tempo conquistou reconhecimento nacional e internacional com variedades como Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir, Chardonnay, Gewurztraminer, Pinot Gris e Viognier.
Segundo ele, os empreendimentos iam surgindo naturalmente. A produção de vinhos nasceu da vontade de produzir uma bebida para comemorar um aniversário de casamento, a produção de queijos nasceu da sugestão de um amigo italiano que o levou à produção do Gran Formaggio, que não havia no país. Depois, como a produção de queijo produzia uma sobra poluente, com descarte complicado, surgiu a oportunidade de investir em carne suína, já que os porcos se alimentam desse resíduo. Hoje, a RAR cria cerca de cinco mil suínos, e atua como fornecedora de carne à BrasilFoods, uma das maiores empresas do setor.
O espírito empreendedor se destacou desde cedo, quando precisou aprender o ofício do irmão e, por volta de 1970, decidiu realizar o primeiro grande projeto de expansão da Randon, com objetivo de fabricar mil carretas por ano, meta que seria alcançada 15 anos depois, e não sossegou em 2009, quando transferiu a presidência executiva para o seu filho mais velho, David. Randon deixa outros quatro filhos, a esposa e 11 netos.
À frente do conselho da família, ele criou a Dramd, holding que controla as empresas Randon e cujo nome é composto pelas iniciais dos filhos, em ordem de nascimento: David, Roseli, Alexandre, Maurien e Daniel.
O legado de Randon soma uma receita bruta em torno dos R$ 4,5 bilhões do grupo Randon, um faturamento perto dos 1,2 bilhão da Fras-le e de uma média de R$ 80 milhões da Rasip. Mas pode ser contado nos quase sete mil empregos diretos somente em Caxias do Sul, e ser visto em Viver e Acreditar, um documentário lançado em 2017 que retrata a vida e a trajetória empresarial de Randon.
Raul Anselmo Randon era um motor trabalhando para o desenvolvimento, que agora deixa de girar. Ele dizia ter um grande objetivo: viver até os 100 anos. Se foi aos 88 anos, mas seu legado permanecerá ainda por outros longos anos.