O aumento dos casos de violência em escolas brasileiras em 2023 acendeu um alerta em diversos profissionais da área de segurança e educação. Foi a partir desse cenário que surgiu a ideia do livro Escolas em Alerta, uma obra colaborativa que reúne 33 especialistas e propõe um movimento nacional em defesa da cultura de segurança nas instituições de ensino. Entre os autores está o policial civil Ricardo Cadaval, natural de Santiago (RS) e radicado em Bento Gonçalves desde a adolescência.
Cadaval conta que o projeto nasceu de um grupo de profissionais dos setores de segurança e proteção escolar que, após trocarem experiências sobre os episódios de violência nas escolas, perceberam a necessidade de compartilhar conhecimento e propor caminhos práticos para prevenção.
“Queremos convidar gestores, educadores e toda a comunidade escolar a se engajarem em um movimento de prevenção, preparação e proteção de crianças e adolescentes”, explica.
Formado em segurança pública, Cadaval carrega uma trajetória marcada pela disciplina e pela vocação herdada da família. Filho de um sargento da Brigada Militar, ele iniciou a carreira no Exército Brasileiro aos 18 anos, onde permaneceu por cinco anos e alcançou a graduação de sargento temporário. Mais tarde, foi aprovado em concurso público e ingressou na Polícia Civil de Santa Catarina, onde atua atualmente.
“Eu me considero filho de Bento Gonçalves. Foi aqui que vivi minha infância e juventude, estudei na Escola Alfredo Aveline e no Colégio Landel de Moura, e presenciei situações que hoje reconhecemos como episódios de bullying e violência escolar”, relembra. “Essas experiências me marcaram e me fizeram acreditar que o conteúdo do livro pode contribuir especialmente com as escolas da cidade e da região.”
Cultura de Segurança nas Escolas
No centro da obra está o conceito de Cultura de Segurança, que, segundo Cadaval, vai além da instalação de câmeras ou da criação de manuais. Trata-se de um processo coletivo que envolve prática, clareza e confiança, e que transforma a segurança em parte da identidade de toda a comunidade escolar.
“Quando essa cultura está presente, cada membro da escola se torna corresponsável pela prevenção. O professor que nota uma mudança de comportamento em um aluno ou o funcionário que percebe uma porta destrancada está praticando a segurança”, explica.
O livro propõe ações práticas para incorporar essa cultura ao cotidiano das escolas. Entre elas estão o engajamento de todos — professores, gestores, pais e alunos —, a realização de treinamentos e simulados frequentes, a criação de canais seguros de escuta e o incentivo à empatia e à atenção aos sinais de risco.
Outra contribuição central de Escolas em Alerta é o fortalecimento dos vínculos entre escola, família e comunidade. A obra destaca a importância da escuta ativa, da mediação parental e digital e da educação para o uso ético da tecnologia, temas que, segundo o autor, tornaram-se fundamentais em uma era marcada por desafios como o cyberbullying, o discurso de ódio e o aliciamento online.
“Os pais são aliados essenciais. Eles precisam supervisionar o uso das redes sociais e estabelecer uma comunicação de confiança com os filhos”, observa.
Protocolo V.I.D.A.S.
Além da teoria, o livro apresenta ferramentas práticas, como o protocolo V.I.D.A.S., desenvolvido no Brasil, que orienta professores e alunos sobre como agir de forma coordenada em situações críticas. O material também aborda temas como gestão de crises, matriz de riscos e comunicação institucional, com foco em preparar as escolas não apenas para lidar com emergências, mas também para preservar sua reputação e reconstruir a confiança da comunidade.
Com linguagem acessível e abordagem multidisciplinar, Escolas em Alerta está disponível gratuitamente para download no perfil de Ricardo Cadaval no Instagram (@ricardocadaval.s). A publicação, segundo o coautor, é mais do que um livro informativo:
“É um convite à ação coletiva. A verdadeira segurança nasce da prevenção e do conhecimento compartilhado. Precisamos proteger o que temos de mais valioso — nossas crianças e adolescentes”, conclui.