Qual teria sido a gênese da invasão de dois terrenos, um particular e outro público, no bairro Vila Nova II? Esta é a curiosidade que me assombra há uma semana, desde que soube que mais de 60 famílias se instalaram em terrenos que não lhes pertencia.
Ontem fui com o colega Bruno Mezzomo até o local e falamos com algumas pessoas: de invasores a vizinhos assustados. Depois o meu colega falou com o proprietário da área particular. Ele já entrou com pedido de reintegração de posse na Justiça e agora parece estar juntando documentos para a melhor análise do poder judiciário.
É tudo um pouco nebuloso. Ninguém precisa com certeza o dia em que tudo começou. Fico com a declaração de uma vizinha que diz ter acompanhado num domingo recente, porém indeterminado, um grupo de 40 ou 50 homens chegando de manhã cedo, usando machado, serra e martelo para construírem o primeiro barraco. Ao final da tarde eram oito casebres e desde então não houve dia em que uma nova família não plantasse sua lona e não estivesse a demarcar um pedaço de terra, de 20 x 20 mais ou menos.
A primeira área, a de propriedade particular, tem um mato de eucaliptos altos e em algumas partes tem rede de alta tensão passando, o que por si só seria o suficiente para a retirada das pessoas.
Um grupo de homens jovens, entre 20 e 30 anos, moradores da vizinhança conversavam entre eles e nos disseram estar incomodados e preocupados com a horda que se adonou da área. Relatam ter visto gente armada, gente com tornozeleira.
No outro lado do terreno maior, uma área pequena que seria da prefeitura. Ali três homens que também se avizinham dos 30 anos, instalavam o nono casebre. “Nos ajudamos, cada um a construir o barraco do outro”, conta o auxiliar de pedreiro desempregado M. Ele tem um discurso pronto: vivemos há anos aqui mesmo no bairro. Aluguel caro, salário de R$ 1.200,00 que mal dá pra comprar arroz, feijão e ovo”.
E é assim, os invasores são moradores dos bairros Vila Nova, Eucaliptos e de outros bairros pobres da cidade. Alguns fogem do aluguel, outros resolveram embarcar na onda e quem sabe fazer um negocinho lucrativo ali na frente.
O que é que a Prefeitura tem a ver com isto? Tudo, porque é nela que vai estourar a bomba. Precisa cuidar das crianças, dotar o terreno com infraestrutura, etc, e num bairro que vinha crescendo de forma urbanizada.
A invasão foi estimulada? por quem? Ou o pessoal decidiu depois de uma cachaçada na noite de sábado? Não creio. O certo é que a questão habitacional parece estar longe de ser resolvida, isto mesmo depois dos anos de ouro do Minha Casa Minha Vida, depois do meio fracasso do Residencial Novo Futuro.
Sem falar que tem gente que vai preferir toda a vida se instalar num barraco embaixo dos eucaliptos e não num condomínio se acotovelado com seiscentos vizinhos e precisando assumir compromisso com prestação, condomínio e recolhimento de lixo organizado. Pra isso precisam receber uma educação social que ainda não tiveram. Na invasão, podem até ser massa de manobra, mas nem sabem o que é isto.