Cada um pode dar a interpretação que quiser, sentir luto ou solidariedade pela dor alheia. Tem até quem sinta indiferença, mas estes devem ser a minoria diante da repercussão da morte da vereadora Marielle Franco no Rio de Janeiro.
Não é o fato dela ser negra, mulher ou de esquerda que distinguem este crime de outros. Afinal muitos negros e muitas mulheres morrem diariamente no Brasil e de maneira mais cruel e fortuita. Bom seria que não fosse assim.
Tudo começa pelo respeito à vida, sim, mas o elemento que choca neste crime é exatamente a afronta à autoridade. É o desprezo pelas instituições e pelo poder constituído. A audácia que se instalou num Rio e Janeiro dominado pelo crime e que nem mesmo a presença do Exército inibe. Mariella morreu vítima do mal que denunciava, contra o qual sua voz se ergueu. Falava contra a violência policial e há gente de bem que a condena por isso.
Ora, pode-se não concordar com o posicionamento político de Marielle, mas ela não era vereadora de graça. Suas posições e lutas vinham referendadas por mais de 46 mil votos. Então os quatro tiros que roubaram sua vida levaram um pedaço destes eleitores que nela confiavam. De quebra, atingem a todo o cidadão que gostaria de crer na ordem e na lei. Não se faz justiça matando aquele do qual se diverge. Quem tenta desqualificar a vereadora pelo seu posicionamento, quem relativiza a morte dela, está na verdade aquiescendo com a barbárie. Ou vamos eliminar todos que pensam diferente?
As mortes da vereadora e de seu motorista afrontam a todos. É inaceitável e ponto final.