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Preços dos alimentos tendem a cair após queda dos custos; saiba os motivos

Presidente da Associação Brasileira do Agro explica que deflação, declínio no preço do petróleo e melhora no cenário internacional tendem a beneficiar o setor no segundo semestre

(Foto: Pilar Olivares/Reuters)
(Foto: Pilar Olivares/Reuters)

Com a invasão da Rússia à Ucrânia, o mercado internacional passou a operar diante de uma situação pouco usual: forte alta na cotação do barril de petróleo, aumento do dólar e uma restrição na exportação de fertilizantes. Todos esses são pontos cruciais que impactam nos preços dos alimentos mundo afora. Aqui no Brasil, o consumidor passou a ter seu poder de compra restringido pelo cenário global. Passados seis meses desde o início do conflito, o setor vem se adaptando à nova realidade, bem como os governos ucraniano de Volodymyr Zelensky e russo de Vladimir Putin passaram a realizar tratados comerciais. Paira, porém, o questionamento sobre o futuro do agronegócio para o segundo semestre. Segundo especialistas ouvidos pela Jovem Pan, trata-se de um cenário otimista em decorrência da deflação no Brasil, bem como o alívio nos custos de produção dos principais alimentos dos supermercados.

De forma geral, é possível que os preços dos alimentos presentes no supermercado neste segundo semestre arrefeçam em decorrência da diminuição dos custos agropecuários. Segundo Caio Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio, houve uma melhora nos indicativos das commodities e, aliado com a queda na cotação do barril do petróleo, os próximos meses exercerão uma força positiva sobre o setor. “Tivemos uma safra excelente, portanto, o milho, que tem uma relevância maior, tende a assumir o [lugar do] trigo em relação ao produto mais consumido do mundo. A inflação tende a resfriar. Com isso, temos uma menor pressão de custos. O aumento no PIB e a queda no desemprego, inclusive dentro do agro, tendem a dar um cenário positivo”, disse em entrevista à Jovem Pan.

Muito dos preços encontrados nos supermercados, como leite e carnes, são influenciados por setores primários do agronegócio. É o que explica Igor Lucena, economista e doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Lisboa. “Alimentos podem sofrer uma diminuição de preços porque, no ponto de visto de commodities, como trigo e milho, [a cotação] vem decrescendo”. Trigo e milho são utilizados para a alimentação dos animais e, por consequência, sua diminuição tende a abaixar os preços de leite e carne, por exemplo. “O leite depende muito de preço de ração, derivados do milho e da soja. Sua cotação está muito ligada ao custo, que se refere aos produtos de milho e soja, principalmente”, argumenta Carvalho. O petróleo também exerce influência sobre a precificação dos produtos comprados nos mercados, já que o transporte e o frete brasileiro ocorrem em sua maioria por via terrestre. Com isso, a diminuição na cotação do barril diminui os preços dos combustíveis e exerce um alívio no valor final do produto. “Quando temos uma queda na cotação do petróleo, isso está alinhado com uma diminuição dos custos de gasolina, o que impacta na diminuição do frete. Isso está embutido na composição dos preços. Existe uma ligação linear entre a cotação do petróleo e o preço de alimentos no Brasil”, confirma Lucena.

Outro ponto que auxilia no arrefecimento dos preços é o alívio no cenário internacional. Isso porque Rússia e Ucrânia assinaram, em julho, um acordo de grãos, que reabriu os portos no Mar Negro e permitiu que a exportação de grãos na região possa ser retomado. Com uma maior oferta dos produtos no cenário global, a tendência é que ocorra uma diminuição da sua cotação nas próximas semanas. “Acordos feitos entre os governos russo e ucraniano para liberação dos grandes sinos de grãos passam a escoar sua produção no mercado internacional, que faz com que os preços das sacas desses alimentos caiam. Com isso, os produtos cheguem no Brasil mais barato isso termina sendo desaguado, por exemplo, no barateamento do pão dos brasileiros”, disse Lucena. O Kremlin também assegurou ao governo brasileiro, após o inicio da guerra, que a comercialização dos fertilizantes para o agronegócio não seria reprimida. A promessa foi celebrada pelo setor, mas mantém o sinal de alerta em razão dos riscos da dependência da postura do governo Putin. “Ficou a mensagem da nossa dependência e, portanto, dos riscos dessa dependência. Ou seja, temos que nos virar para buscar fertilizantes e fazer investimentos quanto a isso”, salientou o presidente da Abag.

O cenário poderia ser ainda melhor caso o dólar não estivesse em um patamar elevado, já que os custos de importação de fertilizantes e produtos como milho e trigo são comercializados na moeda americana. “Vemos uma queda no dólar que, pelo menos nas ultimas semanas, apesar da volatilidade, aproximou-se dos cinco reais. Isso faz com que todos os insumos, como rações, adubos, fertilizantes que são estrangeiros e em sua maioria vem da região da Rússia e Ucrânia, fiquem mais baratos. O problema é que os custos de exportação ainda estão altos dado o frete, que são em dólar”, pontua Lucena antes de ressaltar sua expectativa quanto à diminuição gradual dos preços dos alimentos neste semestre. Na visão de Caio Carvalho, a expectativa é “muito positiva” para o segundo semestre no setor.

Fonte: Jovem Pan