Agro Rural

Preço do leite e seus derivados registram quedas nos mercados, aponta Embrapa

Após superar a casa dos 60% no acumulado, os produtos lácteos começam a apresentar recuo

Após três meses recuando, os custos de produção de leite voltaram a subir. No mês de agosto o aumento registrado pelo ICPLeite/Embrapa foi de 3,0%
Preço do leite e seus derivados registram quedas nos mercados (Foto: Arquivo Leouve)


Em 2022, o leite e seus derivados apareceram como um dos maiores vilões da inflação brasileira. Agora, após superar a casa dos 60% no acumulado, os produtos lácteos começam a apresentar recuo. Tais informações foram divulgadas pelo Centro de Inteligência do Leite da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

“Segundo dados divulgados pelo Conselho Paritário Produtores/Indústrias de Leite dos estados (Conseleites) em relação ao pagamento ao produtor em setembro, podemos afirmar que o movimento de alta chegou ao fim”, destaca Samuel Oliveira, pesquisador da Embrapa Gado de Leite em Minas Gerais.

O que ocasionou os aumentos recentes no leite?

De acordo com dados apresentados pela Embrapa, a pressão sobre o preço do leite e de seus derivados foi motivada por diversos fatores. Dentre os principais a queda na oferta do produto. O período de entressafra, que ocorre nos meses do outono e inverno, quando há menos pasto para o rebanho, faz com que a produção decline, algo esperado pelo setor. Ainda assim, o elevado custo de produção e deterioração da rentabilidade das fazendas também está atrelado ao movimento. Do mesmo modo, a Guerra entre Rússia e Ucrânia e o incremento nos valores de combustíveis e fertilizantes, além dos commodities agrícolas em geral também impactaram para a elevação.

Com o início da primavera no Hemisfério Sul, e o consequente período das chuvas, a produção no campo começa a aumentar, primeiro nos estados da Região Sul. Para o pesquisador Glauco Carvalho, da Embrapa, o aumento da produção já pode ser observado no mercado spot (compra e venda de leite entre as indústrias). “O spot registrou queda de 37,6% no preço praticado em agosto, fechando a segunda quinzena a R$ 2,83 o litro”, informa Carvalho. “Isso sinaliza uma rápida mudança de tendência em relação aos últimos meses, demonstrando que começou a haver maior quantidade da matéria-prima disponível na indústria”, reforça o pesquisador.

Mudança no cenário

Para Lorildo Stock, analista da Embrapa, o melhor preço pago ao produtor em função da diminuição da oferta estimulou o setor primário a investir mais na alimentação do rebanho e as vacas responderam com maior volume de leite. Outra frente que motivou a ampliação da oferta foram as importações, que atingiram o equivalente a 172 milhões de litros em agosto, 63,3% maior em relação a julho e 129,9% em comparação com agosto de 2021.

Outro fator que puxa as cotações para baixo é a queda na procura pelo produto por parte do consumidor. “A inflação comprometeu o poder de compra dos salários e impôs dificuldades para o mercado assimilar o aumento dos preços, o que causou redução significativa da demanda”, afirma Glauco Carvalho. As consequências desse conjunto de fatores chegaram primeiro ao mercado atacadista, no qual o preço do leite UHT (Ultra High Temperature), também conhecido como Longa Vida ou “leite de caixinha”, caiu 23,5% em agosto e a muçarela, 15,7%.

A primeira quinzena de setembro esboça estabilidade nos preços, mas a tendência é que a redução se amplie em outubro, quando a produção nas regiões Sudeste e Centro-Oeste se eleva. Mas o consumidor já percebe a desaceleração e até mesmo a queda nos preços dos lácteos no varejo. Depois do grande salto verificado em julho (14%), o aumento do leite em agosto foi de 0,4%, com destaque para a queda de 1,8% no preço do leite UHT.

Com informações: Embrapa