Em um ano de recuperação do setor aéreo, com o número de passageiros acima dos 100 milhões, o que não ocorria desde 2019, os preços das passagens sobem em ritmo de dois dígitos. Pela prévia da inflação oficial do País, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15), o preço das passagens aéreas acumulou alta de 81,93% nos quatro meses entre setembro e dezembro, apontou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No fechamento de 2023, o aumento foi de 48,11%, após variações de 16,76% em 2021 e 24,02% em 2022.
Pelos dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a tarifa real média por empresa era de R$ 741,47 em outubro de 2023 – último dado disponível -, ante R$ 669,12 em outubro de 2022, 10,8% a mais. A metodologia da coleta é diferente da usada pelo IBGE.
A alta da passagem aérea ganhou destaque ao ser mencionada ontem como motivo de preocupação pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “O que está nos preocupando em relação ao IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo] é um item: as passagens aéreas”, disse ele.
Aumento da demanda maior que o da oferta, recuperação de margens após as perdas da pandemia, alta de custos nos últimos anos, oligopólio entre as empresas e proximidade com a alta temporada são as principais razões citadas por economistas que acompanham a inflação para explicar esse movimento de alta de preços registrado em 2023, especialmente nos últimos meses. O setor nega uma recomposição das perdas “de maneira imediata”, mas admite que há “cicatriz” da crise histórica vivida nos últimos anos.
“Há uma relevante ligação do aumento do preço da passagem aérea com o atendimento da demanda reprimida por serviços ao longo da pandemia”, diz o economista da LCA Consultores Fabio Romão, que cita também perfil sazonal de aumento dos preços no fim do ano. Em 2023, no entanto, acredita que pode ter ocorrido uma antecipação de reajustes por parte das companhias aéreas, “em parte para mitigar os altos custos colhidos na pandemia”.
O preço do querosene de aviação subiu 89,9% em 2021 no atacado, seguido por alta de 50,5% em 2022 e recuo de 18,3% em 2023, de acordo com o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M). “O querosene teve alta nos meses mais recentes, mas os reajustes [de passagens] têm a ver com o relevante aumento desse custo em 2021 e 2022, o que, associado à demanda reprimida, pode ter alterado a sazonalidade de reajustes no fim de ano”, afirma Romão.
Na avaliação de Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, a alta das passagens aéreas reflete a conjunção de três fatores. “A demanda continua forte mesmo no segundo ano de reabertura da economia. O segundo fator é que o setor é um oligopólio de três empresas, o que garante um certo controle de mercado. E o terceiro é que as companhias vieram de três anos muito difíceis e agora estão recompondo margens”, nota.
A presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Jurema Monteiro, pondera que o aumento de custos nos últimos anos – com dólar e querosene de aviação – tem influência nos preços, mas admite o efeito da demanda maior que a oferta no primeiro ano sem efeito da pandemia, que favorece alta de preços.
“A demanda por assentos cresceu 7,5%, mas a oferta avançou 5,9%. Há tendência de maior procura em determinadas rotas e datas. Isso é um dos fatores que, no modelo de precificação dinâmica do setor, podem levar a tarifa mais agressiva, mas não é o único”, diz ela, que destaca a retomada do volume de passageiros do pré-pandemia, mas com gastos maiores.
“Nesse período, 64 empresas deixaram de operar. No Brasil, as empresas sobreviveram, mas existe uma memória, uma cicatriz dessa crise”, afirma.
Fonte: O Sul