Caxias do Sul

“Posso me apresentar ao povo brasileiro com a ficha limpa”, afirma Ciro Gomes

Agenda de Ciro Gomes na Serra Gaúcha encerrou com palestra na UCS (Foto: Ricardo de Souza/Grupo RSCOM)
Agenda de Ciro Gomes na Serra Gaúcha encerrou com palestra na UCS (Foto: Ricardo de Souza/Grupo RSCOM)


O pré-candidato do PDT à presidência do Brasil em 2018, Ciro Gomes, encerrou sua passagem na Serra Gaúcha com uma palestra para mais de 300 pessoas, no auditório do bloco J da Universidade de Caxias do Sul, na noite desta quarta-feira, dia 18. Antes do encontro, o ex-prefeito, ex-governador, ex-deputado e ex-ministro falou à imprensa e revelou os principais pontos do seu plano de governo para o Brasil: recuperar a confiança do povo brasileiro nas instituições por meio do exemplo, taxar os mais ricos e combater a agiotagem dos bancos e instituições financeiras.

Ciro Gomes, que já concorreu a presidente em 1998 e 2002, analisa que o atual momento do país pede uma mudança pautada no exemplo. Com 38 anos de vida pública, o político se coloca como uma alternativa pelo fato de nunca ter sido investigado por corrupção. “Posso me apresentar ao povo brasileiro com a ficha limpa. Nunca respondi a nenhum malfeito e tenho um trato zeloso com o dinheiro do povo. A mudança que o povo pede começa com essa premissa. A ideia de um compromisso exemplar, não retórico, porque vimos que a retórica pode frustrar muitas pessoas, como no caso do Aécio, que talvez seja o mais trágico da história contemporânea brasileira”, afirma.

Auditório do Bloco J da Universidade de Caxias do Sul lotou para ouvir o pré-candidato. (Foto: Luís Gustavo Damo/Grupo RSCOM)

Além da questão moral, Ciro Gomes também falou sobre as reformas da previdência e trabalhista, de alternativas para diminuir a corrupção e, principalmente, de meios para recuperar a economia brasileira. Confira trechos da entrevista:

Em 1998 e 2002 as eleições no Brasil tinham como característica a sede do povo pela mudança. Em 2018, essa parece que vai se repetir. O que mudou no cenário e qual o projeto de nação de Ciro Gomes para o Brasil?

Ciro Gomes: “O momento brasileiro pede uma pessoa que tem a capacidade de compreender a raiz dos problemas, os ângulos gerais que os problemas se repartem, não simplificar a abordagem de problemas que são muito complexos, mas ao mesmo tempo com a capacidade de formular alternativas com ideias que devem ser ajuizadas antes das eleições. Se o cidadão se elege despolitizadamente, ou seja, dizendo que está tudo errado e que a culpa é do que tá aí e deixa a população acreditar desonestamente que se ele chegar lá vai resolver tudo em um passe de mágica, ele tá semeando a decepção como nós vivemos com a Dilma. É possível resolver o problema brasileiro, mas nós vamos precisar muito da participação consciente do povo brasileiro para enfrentar essas resistências corruptas e fisiológicas que tomaram conta do poder central do país”

Neste pouco mais de um ano de governo Temer, tivemos a aprovação da reforma trabalhista e ainda há a discussão sobre a reforma da previdência, ambas capitaneadas por setores do mercado. Qual é o posicionamento do senhor em relação a essas reformas?

“Nós não devemos ter medo de pôr em debate todas as estruturas brasileiras. Elas estão claramente incapazes de responder ao desafio do emprego, do salário, da renda, da segurança da população, da saúde que se deve dar ao povo brasileiro, do concerto da juventude que hoje está absolutamente descrente de tudo e de todos e isso é uma morte que se dará a democracia em um espaço muito breve. Porém, ao não termos medo, isso nos distingue de quem meramente reage, nós não podemos aceitar que o conjunto de providências que são tomadas hoje se deem para atender a privilégios de uma sociedade que é extrema e selvagemente desigual, que mantêm uma minoria, só para dar um número que talvez é o mais chocante que possa resumir o que eu quero dizer: seis brasileiros têm a fortuna equivalente a 100 milhões dos brasileiros mais pobres. Evidentemente que as reformas que nós precisamos fazer devem buscar consertar as contas públicas, sanear as contas públicas, ser um governo empoderado para agir com mais dinheiro em educação, mais dinheiro em segurança, mais dinheiro em saúde pública, evidentemente combatendo o desperdício e a corrupção, mas não há como você fazer isso sem incrementar o gasto anual por aluno.”

Agenda de Ciro Gomes na Serra Gaúcha encerrou com palestra na UCS (Foto: Ricardo de Souza/Grupo RSCOM)

Nesse cenário tomado pela indignação do povo brasileiro, como diante da votação que devolveu o mandato ao senador Aécio Neves (PSDB) ontem no Senado, o que o senhor tem a dizer para a população?

“Uma das graves centralidades desse momento é devolver ao povo a confiança de que é possível haver decência no trato das coisas públicas. Hoje no momento em que eu lhe falo é muito provável que seu ouvinte já esteja fazendo um sinal negativo de descrença porque a aparente generalização da ladroeira causou esse desastre na cabeça do nosso povo. E como se muda isso: com o exemplo. Porque se o de cima rouba, rouba todo mundo. E infelizmente nós estamos vendo oficializada a corrupção pela acusação do Ministério Público atingindo nada mais nada menos pela primeira e pela segunda vez na história do Brasil um presidente da república. E diante disso, as instituições também têm se comportado de forma anárquica, o que revela a necessidade de duas coisas: uma permanente inovação institucional. As leis que temos se revelaram impróprias e não estão capazes de alcançar, de prevenir, de punir com a severidade e a velocidade necessárias. Veja que a Lava Jato em nível singular com o juiz Sérgio Moro já fez 190 condenações. O Tribunal Regional Federal que examina em segunda instância já fez mais de 50 condenações e nenhuma condenação foi feita pelo Supremo Tribunal Federal. Por isso precisamos inovar institucionalmente. Parte disso se deve a disfuncionalidade da legislação, que é montada de propósito. Porque essa legislação é feita pelos barões e uma das coisas flagrantes é acabar com essa história de foro privilegiado para determinados tipo de comportamento. O foro privilegiado deveria ser reservado para impedir que o presidente da república ou um parlamentar sofra do mundanismo da perseguição política via judicial, mas o camarada acusado de roubo, de assalto aos cofres públicos, esse tem que responder como um ladrão de galinha, com o agravante de pena porque está roubando dinheiro do conjunto da sociedade brasileira.”

No Rio Grande do Sul e na Serra Gaúcha, vivemos uma grave crise financeira e de empregos. Em Caxias do Sul, nos últimos anos, mais de 20 mil postos de trabalho foram fechados. O que se apresenta de solução para a economia dessa região que é baseada no setor produtivo e acaba sofrendo muito mais com a crise que o setor especulativo, por exemplo?

“O Brasil está se desindustrializando. Como esse eixo Caxias do Sul – Porto Alegre é basicamente um eixo de um extraordinário vetor industrial do país, vocês estão sofrendo centralmente com o que está acontecendo com o Brasil. Como o nordeste não tem muita indústria, o peso dessa tendência é relativamente menor e menos grave, por isso o nordeste tem escapado um pouco disso, mas é devastador. Em 1980, um terço da riqueza brasileira era extraído da indústria. Hoje, nós estamos colhendo na indústria apeans 8% da produção da riqueza brasileira, voltamos ao que era em 1910. Por quê? Juros, câmbios e deficiência de infraestrutura. Hoje mesmo visitei a Marcopolo, uma empresa absolutamente extraordinária, mas vive sofrendo constrangimento de juros, câmbio e infraestrutura. Nunca aconteceu de país nenhum se desenvolver sem uma sólida parceria entre um estado empoderado e uma iniciativa privada convergente com isso. No Brasil, apesar de estarmos vivendo esse desastre, a mitologia neoliberal de que o mercado livremente é que vai resolver o problema nada mais fez que desastrar a sociedade brasileira, destruir aos milhões os empregos. Hoje nós 13,4 milhões de brasileiros desempregados, mais de 10 milhões de brasileiros empurrados para o biscate, correndo da repressão na cidade, tentando sobreviver, desorganizando o comércio que paga os impostos. Na verdade o país hoje não tem nenhum compromisso com quem produz, todas as nossas energias estão sendo drenadas para a agiotagem. E é isso que precisamos acabar.”