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Porto em Arroio do Sal: luta de empresários e entidades faz projeto virar realidade

Importante atuação da prefeitura também ajuda garantir obra entregue no final de 2024

Porto em Arroio do Sal: luta de empresários e entidades faz projeto virar realidade

A dedicação de empresários e das principais entidades do Rio Grande do Sul faz com que o projeto do Porto Meridional de Arroio do Sal, planejado e pensado há mais de quatro anos, esteja cada vez mais perto de ser concretizado. O que parecia um sonho distante, já virou realidade. Este foi o teor do encontro proporcionado pela Associação do Aço do Rio Grande do Sul (AARS) nesta quarta-feira (18) em Porto Alegre, na sede da entidade. O setor, inclusive, é um dos mais envolvidos para conclusão da obra.

Um dos palestrantes da reunião-almoço, João Acácio Neto, presidente da DTA Engenharia, reforçou a importância para as empresas em se ter vias alternativas para exportações e importações. Ele frisa que, muitas vezes, os produtos precisam sair da Serra Gaúcha e atravessar praticamente três estados para ser enviado. O movimento contrário, da mesma forma.

“Olha, muda muito, muito mesmo. É uma revolução logística para o Norte do Estado, onde está concentrada a economia do Rio Grande do Sul. O centro de gravidade da economia do Rio Grande do Sul está todo na região Norte a gente viu o valor adicionado bruto do Estado. Precisa ter um porto para atender essas demandas de manufatura, demanda de manufaturado. A soja, o estado produz 21 milhões de toneladas por ano de soja, que é o grande ouro verde brasileiro. Para produzir soja, para entrar fertilizante, está tudo de ponta cabeça, e sem falar que é um Estado hidroviário. A gente tem uma superfície de água fantástica para transformar o uso, as ligações com o porto marítimo através de hidrovia. Eu estou aqui, eu sou de São Paulo, tenho colegas, engenheiros, aqui. Esse estado deve sofrer uma revolução nesse sentido”, salienta João Acácio Neto.

Segundo Neto, o Rio Grande do Sul demorou (muito) para andar com projetos portuários.

“Muito. Eu não entendo isso. Minha participação não tem nada a ver com a política. Eu sou técnico, mas o Rio Grande do Sul tem um PIB 50% maior que Santa Catarina, e tem uma costa 20% maior em extensão do que Santa Catarina e ficou com o porto no calcanhar do estado. Nada contra o Rio Grande. Nós vamos trazer 5 milhões de toneladas do Uruguai, do interior da Lagoa Mirim para o porto de Rio Grande. O fato é que precisa levar uma chacoalhada. Agora, os empresários resolveram investir e nós estamos contentes de estar aqui criando essa concepção. E eu estou absolutamente convencido de que o apoio é pleno. Eu já fiz mais de mil projetos na minha vida. Eu tenho já quase 50 anos de formado. Esse projeto é de um apoio pleno sob o ponto de vista empresarial, sob o ponto de vista de dono de carga, sob o ponto de vista de agronegócio, eu estou muito satisfeito e eu acho que a gente deve estar virando uma página e transformando o Rio Grande num grande polo logístico e fazer com que essa carga saia com menor custo e aumente a competitividade de todo o Estado”, conclui.

Para o vice-presidente da Associação do Aço do Rio Grande do Sul e proprietário da Diferro Aços Especiais, Adelar Santarem, este é um momento único do setor. Para quem vive do aço – e inclusive diz ter o aço no sangue – como é o caso de Santarem, a expectativa é das melhores, uma mudança que vai acelerar e agilizar os processos de produção e entrega.

“Eu estou nesse setor desde 1968, O que acontece? A gente viveu os mais diversos momentos, as mais diversas figuras humanas. Podemos ver nos mais diversos desenhos do comércio e da indústria. Assim, viveremos uma transformação muito grande, não só no transporte, mas nos próprios produtos. Essa transformação é tão grande que a gente às vezes não consegue se aperceber no dia a dia do que está acontecendo. Mas hoje, por exemplo, nossa empresa trabalha com uma gama de materiais imensamente grande. Nós vamos do aço para a ferramenta, do aço para construção mecânica ou aço para construção, e o que isso impacta? Impacta em mudanças de cultura, mudanças de conhecimento de aplicação. Isso tem acontecido. Tenho o aço no sangue. Às vezes eu digo tenho ferrugem no sangue de tantos anos, e eu gosto”, salienta Santarem, com trajetória reconhecida no segmento não apenas na Serra Gaúcha, mas em nível nacional.

Já o presidente da AARS, José Antônio Fernandes Martins, é direto ao reforçar que nenhuma indústria, nenhum país, se desenvolve sem uma logística eficiente e ágil. E, conforme ele explica, é isso que o Porto de Arroio do Sal vai proporcionar à Serra e Região Metropolitana.

“É importantíssimo esse projeto de Arroio do Sal, porque nenhuma indústria, nenhum país se desenvolve se não tiver um projeto moderno de logística e distribuição. Nós, no Rio Grande do Sul, consumimos 1,5 milhão de toneladas de chapas de aço por ano. Todas as chapas de aço vêm hoje de carreta de Minas Gerais da Usiminas, vem do Espírito Santo, da Arcelor Mittal, vem da CSN no Rio de Janeiro. E isto é um processo lento. É um processo extremamente caro e dispendioso. Então, esse plano de Arroio do Sal nós queremos que tenha um porto intermediário, não em Rio Grande, como só tem hoje um porto perto das grandes indústrias. Hoje, a logística, para você ter uma ideia no sistema de aço, representa entre 10 a 12% do preço do custo da matéria-prima”, conclui Martins.

O tema foi assunto principal do Jornal da Manhã Edição Serra Gaúcha da Jovem Pan 92,5 FM, emissora do Grupo RSCOM, nesta quinta-feira (19). Abaixo, em vídeo, você acompanha as entrevistas e cobertura completa do evento na sede da AARS que deu mais um passo para a construção do Porto Meridional em Arroio do Sal. 

Mas, nem só da luta de empresários e entidades se faz o Porto Meridional. A atuação da prefeitura de Arroio do Sal tem sido fundamental. Em debates, em projeto, em soluções e alternativas, o Poder Público é peça chave nas evoluções dos passos para a concretização do serviço portuário em Rondinha. O vice-prefeito José Diogo Martins Pereira, Zeca, representando o município, já diz: hoje, o Porto é uma realidade.

“Primeiramente, veio a questão do compromisso e do desafio de você se preparar para poder corresponder à altura. O que o desafio pede. A primeira coisa é o Plano Diretor, e precisamos preparar a cidade não só para receber o empreendimento, mas preparar a cidade para o crescimento que vem. E é um crescimento muito grande num espaço de tempo muito curto. Então, a gente precisa tomar esses cuidados. Agora, temos aí a questão fundiária de todo o município e o município não é tão grande assim. Tem os dois lados da moeda, tem o lado bom e tem o lado ruim. Então, assim, o desafio é muito extenso, tem muito trabalho a ser feito. Esse trabalho já está sendo encaminhado. Já estamos dando andamento, temos as comissões já trabalhando, temos reuniões periódicas e temos prazos e temos metas. O grupo do Porto Meridional é muito dinâmico. Depois que a empresa que detém a engenharia começou fazer parte do licenciamento desse projeto, foi onde a coisa mudou de cenário e o Porto Meridional passou a ter uma celeridade nos processos muito grande. Boa parte deles a gente tem acompanhado pessoalmente Então, a gente precisa apressar o passo, vamos dizer assim, para acompanhar o andamento desse empreendimento, que realmente ele é muito ousado na questão de prazos. Só para ter uma ideia, mas a obra em si é de 18 meses. Ou seja, superada a etapa de licenciamento, é muito rápido. O Estado grita por uma melhora na questão logística. Isso não é novidade para ninguém. Então, não está se inventando a roda. Está simplesmente se atendendo uma demanda que já existe hoje”, reforça Zeca, mostrando o orgulho e o trabalho que a prefeitura de Arroio do Sal vem fazendo para acelerar e manter os processos em ordem.

Etapas

Escavação: De forma concreta, o Porto Meridional já conta com aprovação da Secretaria Nacional de Portos e da Marinha para escavação em área portuária de 2,5 quilômetros da beira-mar.

Estudo de impacto ambiental: em março, o porto de Arroio do Sal venceu uma importante etapa do processo ao conseguir o termo de referência definitivo do Ibama. Com ele, a DTA Engenharia teve autorização para começar o Eia-Rima (Estudo de Impacto Ambiental-Relatório de Impacto Ambiental)

Plano diretor: também em 2022, a prefeitura de Arroio do Sal espera conseguir modificar o Plano Diretor local.

Licenças prévia e de instalação: Vencidas essas etapas acima, a DTA Engenharia espera ter a Licença Prévia (LP) do Ibama, que certifica o empreendimento como ambientalmente viável, e a Licença de Instalação (LI), em que o órgão autoriza o início das obras, no final deste ano.

Resumo, prazos e investimento
O quê: Porto Meridional
Onde: Arroio do Sal, na altura de Rondinha Nova (9,5 km da BR-101)
Investimento previsto: R$ 6 bilhões (recursos privados)
Como será: terminal de uso privado (TUP), no modelo onshore (na costa)
Capacidade estimada: 40 milhões de toneladas ao ano
Calado: 17 metros

2022
Conclusão do Eia-Rima (Estudo de Impacto Ambiental-Relatório de Impacto Ambiental).
Conclusão do projeto de engenharia, usado na construção da infraestrutura.
Mudança do Plano Diretor de Arroio do Sal.
Análise do Ibama para liberação da Licença Prévia e Licença de Instalação.
Cotações e contratações para início das obras

Primeiro trimestre de 2023
Início das obras.

Final de 2024
Começo das operações portuárias em Arroio do Sal.