“Nunca tinha visto nada igual”. Essa foi a reação de muitas pessoas em Porto Alegre diante do temporal violento que se abateu sobre a capital gaúcha por volta das 22h da terça-feira. Foi uma das tempestades mais fortes que atingiu a cidade na história recente com chuva excessiva em curto período, granizo e um intenso vendaval.
O Aeroporto Salgado Filho registrou vento de 89 km/h, mesma velocidade observada no Jardim Botânico. Estações particulares de clubes náuticos no Sul da capital anotaram quase 120 km/h. Canoas, na base aérea, teve vento de 107 km/h.
Velocidades de vento medidas no aeroporto ou na base em Canoas são por anemômetros em campo aberto. Dentro da cidade, por relevo e/ou construções, o vento acelera e sopra mais forte, sobretudo em andares altos de prédios. Assim, por certo, rajadas tão fortes quanto 110 km/h a 130 km/h ocorreram.
A chuva, que veio acompanhada de muitos raios e granizo em diversos bairros, foi extrema como o vento em Porto Alegre. Somente em uma hora, durante o temporal, a chuva que foi torrencial acumulou 60 mm a 70 mm em diferentes pontos da cidade. Ou seja, em apenas 60 minutos choveu a metade da média histórica de precipitação de janeiro inteiro na cidade que é de 120,7 mm.
A severidade do temporal em Porto Alegre foi uma das maiores da história recente da capital, com semelhanças com os episódios de tempo severo de outubro de 2015 e janeiro de 2016, anos de forte El Niño como agora.
O mais recordado dos temporais violentos em Porto Alegre é o de janeiro de 2016. As rajadas foram maiores em cell velocidade, mas a área da cidade atingida por vento destrutivo foi menor, com o pior concentrado nos bairros Menino Deus e Praia de Belas.
No temporal de agora, o vento atingiu com grande força áreas que escaparam do pior em 2016, como áreas mais ao Sul e o Norte da cidade.
O que causou temporal tão violento em Porto Alegre? Por três dias, a MetSul Meteorologia alertava para um cenário meteorológico complexo e pouco comum no verão que poderia trazer condições perigosas de tempo severo.
Um área de baixa pressão em níveis médios e altos da atmosfera (“baixa fria”) avançou durante a terça do Chile para o Oeste e o Centro da Argentina, rumando depois para o Uruguai.
Ao mesmo tempo, uma intensa corrente de vento avançava pelo Norte da Argentina até o Uruguai e o Rio Grande do Sul com ar muito quente que forneceu energia para instabilizar a atmosfera acentuadamente ao encontrar a “baixa fria”, gerando chuva intensa a excessiva com temporais fortes a severos de vento e granizo.
Uma linha de instabilidade, também conhecida nos Estados Unidos como sistema convectivo quase-linear (QLCS), avançou do Oeste e do Sul do estado com chuva intensa, granizo e vendavais.
A linha, ao alcançar Porto Alegre, desenvolveu uma célula de tempestade ainda mais forte, gerando o temporal violento na capital, mas que não atingiu toda a área metropolitana com a mesma severidade.