Pouco mais de um mês depois das enchentes que deixaram centenas de vítimas, dezenas de desaparecidos e milhares de desabrigados em todo o Rio Grande do Sul, muitos pontos de coleta de donativos convivem com a ausência de voluntários no Estado. Essa situação é observada inclusive em Caxias do Sul, referência para o recebimento de doações na Serra.
Luana Alana Ramon, diretora voluntária da Parceiros Voluntários Caxias do Sul, que encaminha pessoal para os QGs da cidade, menciona que no início de maio, no pior momento da tragédia climática, os grupos de WhatsApp da entidade recebiam cerca de 400 mensagens por dia, vindas de interessados em auxiliar as ONGs. Agora, a média diária não passa de 10 contatos.
“Sabemos que em Caxias do Sul o pior já passou. Mas os estragos causados pelas cheias ainda estão sendo contabilizados em regiões como Porto Alegre e região metropolitana, além do Vale do Taquari. Isso reforça a importância não apenas de reunirmos doações que podem facilitar os trabalhos de limpeza, mas também de organizarmos os itens e direcioná-los com agilidade e eficiência aos locais onde a água já baixou”, pontua.
Responsabilidade social empresarial faz toda a diferença
Entre os valores que norteiam a atuação da Parceiros Voluntários Caxias do Sul, fundada em 1999, está a responsabilidade social empresarial. O conceito se refere ao conjunto de ações e estratégias colocadas em prática pelas organizações com o propósito de estreitar laços com a comunidade e auxiliar a população em momentos de vulnerabilidade.
A psicóloga salienta que as empresas desempenham um papel primordial para fortalecer as redes de solidariedade. Nesse sentido, sugere que companhias de diferentes segmentos cedam parte de seus funcionários em determinados turnos. O objetivo é claro: diante da ausência de pessoal, ocupar os QGs para otimizar a organização e o envio de donativos a quem mais precisa.
“Empresários caxienses, unam-se a nós nesta missão. Os talentos que estão ao seu lado são decisivos para que possamos reerguer o Estado”, convida Luana. As corporações que desejam integrar a iniciativa podem entrar em contato com a Parceiros Voluntários Caxias do Sul pelo WhatsApp (54) 99149.8678.
Oportunidade para humanizar relações
A voluntária Denise Bampi, presidente do Grupo Escoteiro Saint Hilaire e servidora pública da Justiça do Trabalho, que integra a força-tarefa no Seminário Nossa Senhora Aparecida desde 4 de maio, afirma que a ideia de convidar empresas para a mobilização surgiu dos próprios voluntários. De acordo com ela, muitas pessoas voltaram ao trabalho nas últimas semanas, o que ampliou o déficit de pessoas nos QGs.
“A normalidade trouxe uma série de dúvidas comuns a muitos cidadãos, como por que vocês não abrem o Seminário depois das 18h? Como já estamos aqui praticamente 12 horas por dia, de domingo a domingo, torna-se difícil abrir o local no período noturno, inclusive por questões de segurança. Assim, convidamos organizações a se juntarem a nós com a cedência de funcionários em determinados turnos.”
Recentemente, a concessionária do transporte público de Caxias do Sul passou a integrar o movimento. Segundo Denise, a empresa disponibiliza ônibus de ida e volta diariamente, para que funcionários auxiliem na triagem de donativos.
“O voluntariado é algo muito comum em países como o Canadá, onde o tempo é visto como algo preciosíssimo, aliado às atividades profissionais. Somado a isso, ponderamos que voluntariar é um gesto de amor, vindo muitas vezes de quem tem apenas a disponibilidade para oferecer ao próximo. Queremos que mais operações estejam ao nosso lado, humanizando as relações interpessoais e evidenciando o valor de ajudar as pessoas”, complementa.