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Os mercenários no ringue da inconsequência

Os mercenários no ringue da inconsequência

O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, em sua última palestra em Porto Alegre, manifestou um pensamento interessante: a democracia perdeu a guerra para o neoliberalismo selvagem quando o Muro de Berlim caiu. Com o ocaso do socialismo oriental, sumiram as barreiras que freavam as atrocidades do ‘santo mercado’. Na percepção dele, no momento em que não houve mais o contraponto para as ‘modernizações’ propostas pela economia de mercado, perdeu-se também a vergonha, o pudor e o filtro para medidas ferozes contra o bem-estar da população mundial. Tudo em nome do ‘equilíbrio fiscal e econômico’, da flexibilização de leis trabalhistas para aumentar o lucro (afinal, quem deve ganhar é sempre o patrão, né?), da ‘higienização’ das nações para se protegerem de imigrantes de países pobres ou em guerra (Sim, eu leio e muito. Não sou uma repetidora sem sentido de argumentos. Ah, e sim, existem muitos pensadores no mundo de esquerda e, pasmem, não são filiados ao PT).

Ontem, nesse novo circo de horrores que foi a votação sobre a abertura de investigação contra Temer, esse pensamento se evidenciou. O discurso feroz contra a corrupção e o ‘conjunto da obra’ foi eliminado! No corner direito, sob holofotes, a tão famosa ‘estabilidade econômica’, o ‘crescimento do país’ e as ‘modernizações’ foram usados como mantra para justificar o injustificável. Travestidos de bons homens e com absoluto senso público (sic), nossos valorosos deputados, preocupados com o país, foram batalhadores incansáveis no plenário. Bastaria que não soubéssemos da farta distribuição de dinheiro desse governo para que acreditássemos nas suas boas intenções. Brilharam a verve (sic) do nosso conterrâneo Mauro Pereira, suplente do PMDB alçado a categoria de titular, que na tentativa de seus 15 minutos de fama ocupou os espaços da mídia para bradar contra o PT. E o que dizer de Waldemar Costa, um deputado sóbrio, investido da mais alta convicção na ‘honradez’ do ilegítimo a ponto de ter tatuado seu nome em seu corpo.

Declarações esdrúxulas não faltaram: ‘basta ao PT, que quer transformar o Brasil numa Venezuela’, ‘fora aos esquerdistas que querem implantar o comunismo no país’. Um deboche e um desrespeito a qualquer cidadão que tenha tido meia dúzia de aulas de história nessa curta vida da democracia brasileira. Argumentos como esse são apenas para distrair a atenção dos nossos brasileiros que já não sabem mais quem ouvir. Pensem bem, você teve sequestrado seu direito de espancar verbalmente o seu presidente? Não. Você teve proibido seu direito de abrir qualquer site na internet?  Não. Você viu estatização de alguma empresa no Brasil? Não, a menos que tenha sido para salvar a pele do empresário. Os bancos nunca ganharam tanto, as empresas nunca produziram tanto como nos últimos 14 anos. Então, meus caros, nunca estivemos tão longe de sermos um país comunista. Ao contrário, a palavra correta para definir esse período seria consumismo e não comunismo.

O que me espanta é a contínua hipocrisia dos que salvaram a pele de Temer ontem. Avisamos que eles não tinham deposto Dilma para acabar com a corrupção. Avisamos, também, que um golpe parlamentar estava em marcha para introduzir as reformas neoliberais mais absurdas. Avisamos!

Enquanto isso, a caravana vai passando, o golpista vai dilapidando nosso patrimônio público e a mídia vai aplacando seu desejo de vingança sabe-se lá do que. La nave va!

Não se engane, não existe novidade na política do Brasil. Novas roupagens podem enganar durante um tempo, mas não infinitamente. Aqueles novos que bradam hoje contra o estado e contra a política vicejam na política há muito tempo. Com outros nomes, é verdade, mas seu discurso não tem novidade. É apenas veneno e desrespeito por aqueles que sofrem.

Seria mais correto dizer que estão em luta os direitos do miserável pobre, necessitado e desvalido contra os privilégios do miserável desprezível, torpe e canalha. Minha avó adorava esse xingamento!

Vamos ver o que nos aguarda nos novos rounds.

 

P.s. A partir de ontem, Temeroso e seu projeto contam com o aval de 263 pessoas que deram seu votinho podre e ordinário para continuar com seu desmonte e ataques aos trabalhadores no país. Haja estômago!