Opinião

Os Henrys Invisíveis!!!

Foto: Arquivo Leouve
Foto: Arquivo Leouve

Quando a criança Henry Borel foi morta, em 08 de março de 2021, em um condomínio chique da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, fiquei perplexa: logo nas primeiras notícias, falei em casa: “um novo caso Nardoni”.

Escrevi sobre esse assunto em alguns veículos de comunicação, ao mesmo tempo em que pensei: “Meu Senhor, quantos Henrys, crianças indefesas, neste país continental, perdem, diariamente, suas vidas em circunstâncias semelhantes, sem que haja um interesse midiático dessa envergadura. Não são matéria do Fantástico. São os Henrys invisíveis que só engrossam estatísticas.

Foi brutal. E a gente não costuma pensar que uma monstruosidade dessas possa ocorrer entre pessoas que se supõe dotadas de um certo discernimento, com curso superior, investidos de autoridade e com cargo público.

A realidade é que casos como esses ocorrem com mais frequência do que a gente imagina e a imprensa noticia. Da maioria nem ficamos sabendo. Foi o que ocorreu com a menina “Ketelen Vitória Oliveira da Rocha”, de seis anos de idade, que, torturada, morreu, com uma parada cardiorrespiratória, na madrugada de sábado, 24 de abril, no Hospital Neovida, da Cidade de Resende (RJ), onde estava internada havia cinco dias.

A criança estava em estado gravíssimo, mantendo coma arreflexa (ausência de reflexos) e deterioração das funções vitais; não resistindo, evoluiu para um quadro de parada cardíaca e morreu.

Torturada feito o Henry? Como assim? Como alguém pode torturar uma criança indefesa de seis anos? Sim, ela foi torturada por dias a fio. Que covardia é essa? Quem fez isso?

Vocês querem saber? Ninguém menos do que a própria mãe da menina, Gilmara Oliveira de Farias, de 27 anos, e a companheira dela, Brena Luane Barbosa, de 25 anos.

Quando Ketelen chegou ao Hospital Municipal de Porto Real, Município em que os fatos aconteceram, ela já estava em estado tão grave que, pela natureza das lesões, a equipe médica logo desconfiou que a versão apresentada não batia, e acionou as autoridades que, comparecendo ao local, prenderam em flagrante Gilmara e Brena. Depois, ambas tiveram suas respectivas prisões preventivas decretadas, sendo transferidas para um presídio em Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, de onde ainda não escreveram uma carta para o Fantástico falando “charlatanês” para explicar o inexplicável.

Até onde soube, o pai da criança, pobre – e não um Engenheiro, como o genitor de Henry -, estaria buscando recursos para buscar liberar o corpo da filha e leva-la para a cidade em que mora, a fim de dar a ela ao menos um enterro digno.

Pasme você que, segundo a Polícia Civil, as agressões à Ketelen começaram no dia 16, e seguiram até a madrugada de segunda-feira (19/04), quando a criança “ficou agonizando até amanhecer”; só aí a mãe resolveu chamar o Samu. Registre-se: durante o período de tortura, Ketelen, além de não ter sido devidamente alimentada, recebeu socos, empurrões, pisões, pontapés e lesões provocadas especificamente por um fio de TV, que foi usado como chicote, instrumento do crime que foi apreendido pela Polícia Civil, à qual a mãe e a companheira confessaram o crime. Depois de chicoteada, a criança foi jogada de uma altura de sete metros em um matagal. Só isso!

O que poderia justificar, Senhor, um comportamento monstruoso e bestial desses? Segundo a mãe, “A companheira começou a sentir ciúmes da criança, o que foi piorando o relacionamento, até chegar às agressões”. Gilmara alegou à Polícia que, por volta de outubro do ano passado, a companheira começou a ter ciúmes da criança e a maltratar tanto Gilmara como Ketelen.

E a pergunta que não quer calar é: como e por que a mãe da criança aceitou uma coisa dessas? Como quem mais tem o dever de proteção e vigilância aceita que alguém torture seu filho e não denuncia? Como não chamo o Pai, o Conselho Tutelar, a Polícia Militar, a Polícia Civil, o Ministério Público, a Defensoria Pública, o Juiz? Como não gritou por socorro para os vizinhos que chegam antes de todo mundo?

Vocês acham que acabou? Não. A sogra da mãe da criança presenciou tudo o que ocorreu no fim de semana e nada fez, alegando que foi ameaçada pela filha, caso tentasse fazer algo para socorrer a criança. A tal mulher (a sogra de 50 anos), também mãe, contou à Polícia que a filha já tinha bebido bastante álcool e falou [à companheira]: ‘se você não bater nela [a criança], eu vou bater’.

Ainda que a filha teria dito que permitiria levar Ketelen para o hospital, desde que nada do que aconteceu fosse revelado à Polícia. Já Gilmara, inicialmente, da mesma forma, mentiu, dizendo que um caibro havia caído na cabeça de Ketelen.

Pobre anjo. Pior é saber o que acontecerá daqui pra frente: nada! Nossas Instâncias de Poder não estão seriamente preocupadas em dar uma resposta penal adequada e proporcional para monstruosidades desse jaz. Esperem para ver o resultado de ambos os casos. Daí, retomaremos essa conversa, está bem?