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Os 50 tons de Temer são vermelhos de vergonha

Os 50 tons de Temer são vermelhos de vergonha

Não existem perguntas indiscretas. Pelo menos isso foi o que me disse certa vez um professor desses que a gente jamais esquece que me deu aula lá na distante faculdade de jornalismo da UFRGS que eu cursei nos anos 80 do século passado. O que existem, esse professor insistia, são respostas indiscretas.

Pois ao longo de mais de três décadas de jornalismo eu comprovei que esse professor estava absolutamente correto, mas não foi isso o que o temeroso presidente achou das 50 perguntas enviadas a ele pela Polícia Federal na investigação sobre o suposto benefício a empresas do setor portuário com a edição do já famigerado decreto dos portos, apenas uma das investigações que envolvem diretamente Michel Temer.

Temer achou impertinentes e agressivas as questões formuladas pela polícia. Muita cara de pau. Primeiro, porque ele podia responder apenas se quisesse, depois porque o papel aceita tudo, né mesmo? Temer respondeu o que quis e como quis.

E ele simplesmente negou. Negou que algum dia na sua vida tenha aceitado propina. Negou que tenha autorizado alguém a aceitar propina no nome dele, negou até que em qualquer campanha política tenha usado uma vezinha só um mísero dinheirinho de caixa dois.

E mesmo assim, apesar de dizer que respondeu a todas as 50 perguntas, a verdade é que ele foi reticente, genérico e ignorou os desdobramentos das perguntas. Mas não era de esperar outra coisa mesmo.

Temer não aprofundou resposta nenhuma, nem sobre a participação que José Yunes e o coronel Lima, os dois acusados de receber propina, os dois amigos íntimos de Temer, tiveram em suas campanhas eleitorais. Disse na maior cara dura que só ficou sabendo que o amigo de meio século Yunes admitiu o recebimento de recursos ilícitos em espécie pela imprensa e não explicou a ligação que fez para Rodrigo Rocha Loures para conversar sobre o decreto dos portos, mesmo que a gravação tenha ajudado a federal a sustentar que Temer recebeu sim vantagem indevida para assinar o decreto.

Mas Temer diz não. Temer não cita nomes, Temer não lembra as datas, Temer não revela os pedidos.

A verdade é que tudo ficou sem esclarecimento, mas Temer negou toda e qualquer suspeita sobre ele. O certo é que os 50 tons de Temer são vermelhos. De rubor e de vergonha.

Nada estranho. Se o papel aceita tudo, aceita até a inocência de temer. E a nós, os botocudos, só nos resta saber agora se a Justiça é feita de papel.