Um escritor irlandês chamado C. S. Lewis, que viveu entre 1889 e 1963 (ano em que eu nasci), certa vez, registrou: “Tudo bem chorar por um tempo. Mas você terá que parar mais cedo ou mais tarde e, então, ainda deverá decidir o que fazer”.
Dito de maneira diversa, ele está simplesmente sublinhando algo bem simples de compreender: chorar ajuda, alivia, mas não elimina a causa nem aponta o caminho a seguir.
C. S. Lewis sobreviveu as Primeira e Segunda Guerras Mundiais; a Depressão dos anos 30 do Século passado, a Gripe Espanhola e tantas tragédias. E vejam que eu nasci no ano em que ele morreu, há 57 anos, e o dito nunca foi tão atual.
Sobejam razões para nos esvairmos em lágrimas nos tempos atuais. São muitas perdas humanas diárias. Não que elas não existissem antes. Pessoas nascem e morrem todos os dias de causas naturais, de doenças graves, de causas acidentais próprias ou vítimas de negligência, imprudência, de imperícia e da maldade humana (homicídios brutais).
Agora, contudo, existe algo diferente, a começar por assistirmos pessoas que se encaminham para a morte, sem que os médicos possam fazer mais do que fazem, pois, embora tenham jurado fazer de tudo para salvar vidas humanas, eles não dispõem de meios efetivos e equipamentos para cumprir seu juramento.
Se, antes, isso parecia um filme de terror que a gente assiste pela telinha, hoje essa realidade se apresenta à nossa vida: perdemos amigos, parentes, amores…e nos colocamos na iminência de sermos os próximos.
Sem embargo das perdas humanas, motivo mais que justificado para um choro copioso, como não olhar para as perdas materiais sofridas, das quais também depende uma vida minimamente digna? Não falo aqui só de gente que perdeu em seu negócio. Falo de gente que perdeu “o seu negócio”, com isso, como efeito cascata, operando-se perda de empregos, de meios de subsistência, acarretando que muitos estejam passando fome (inclusive, crianças).
E aqui me toca o escrito longínquo de C. S. Lewis, pois, depois do choro que alivia, ainda teremos que decidir o que fazer; sobreviver, nos reinventar. Se vamos sobreviver, temos que imaginar isso.
Li, em um “post” de Leandro Karnal que “a imaginação é vital”, isso porque, segundo o historiador, ela antecipa coisas e expande possibilidades. Na visão do referido autor, “estimular crianças para para a criatividade é dar um presente eterno”, pois, em breve, tudo o que é repetitivo estará a cargo de máquinas e algoritmos. “A imaginação criativa será um valor cada vez maior”.
E, demonstrando como isso é verdadeiro, Karnal traz à postagem um escrito de Michelangelo, que conta com cerca de 500 anos: “Observei o anjo gravado no mármore, até que o libertasse”, ou seja, imaginar permitiu a Michelangelo olhar para pedras e libertar anjos.
Então, resta aqui uma lição: precisamos chorar um pouco, aliviando nossa dor; mas não para sempre. No fim, ainda precisaremos decidir o que fazer. O quê? Responda você, olhando para dentro de si, libertando anjos de pedra bruta, com sua imaginação.