Da estrutura que não parece ser adequada para realidade do riacho, até a elevação dos preços de insumos para construção civil por conta da pandemia, a obra do Pontilhão Temático na rua José Landrendi, no acesso à Garibaldina tem gerado polêmicas no interior de Bento Gonçalves. O projeto, que fora licitado ainda no início de 2020, durante o mandato de Guilherme Pasin (PP) como prefeito de Bento Gonçalves, encontra-se atualmente atrasado, pode ter cometido prováveis infrações previstas na licença de instalação, e , também, segue levantado questionamentos de pessoas que passam pelo trecho.
Com autorização ainda no quarto mês de 2020, os trabalhos iniciaram apenas em 9 de fevereiro deste ano, sete meses depois. Atualmente, seguem em passos lentos rumo à conclusão. A promessa inicial, era de que os trabalhos seriam finalizados no dia 9 de agosto. O fato é que, na última quinta-feira (09), completou um mês que a nova estrutura deveria ter sido inaugurada e tal evento ainda não parece estar próximo de ser uma realidade. Não apenas parece, como de fato está. A construtora Solaris, em entrevista ao Grupo RSCOM e o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (IPURB), através de nota por meio da assessoria, afirmam que os trabalhos ainda levarão cerca de três meses para conclusão. O prazo estende-se então, até dezembro.
Além da demora para que a obra seja entregue, alguns moradores e pessoas que passam pelo Pontilhão entraram em contato com o Grupo RSCOM preocupadas com a maneira como a ponte foi construída. Alguns creem que a estrutura não fora pensada para os momentos de chuvas intensas, em que o calmo riacho ganha volume e força, carregando consigo os diversos entulhos que são descartados ao longo do curso da água.
A reportagem entrou em contato com o sócio da Construtora Solaris, o engenheiro Paulo Vignatti, para averiguar a situação do Pontilhão. Segundo ele, o maior problema que a empresa enfrenta para realizar a obra é por conta da disparada de preços da construção civil ao longo do período da pandemia.
“Eu passei em uma licitação em abril. Os preços básicos, que a prefeitura calculou, eram de abril de 2020. A obra só pôde iniciar, pois não tinha verba, em fevereiro de 2021. Sete meses depois. Aí iniciou a obra e a pandemia veio com mais força ainda (…) a prefeitura havia orçado o valor em ‘X’, mas agora está ‘X’ mais ‘Y’. Não houve correção [de valores]. Fizemos um pedido e agora estão aceitando, mas vão dar uma correção muito tênue, de uns 10 a 15%. Então isso também já vai ajudar, mas a empresa terminou com prejuízo de R$100 mil.”
“De uma certa forma, agora está muito melhor do que antes, pois agora tem uma ponte de concreto, antes tinha um pontilhão. O pessoal está usando, agora passa bitrem, passa qualquer caminhão lá. Antes não passava. Comparando com o que estava, agora está melhor. Só tem os [trabalhos] complementares, são os muros, paralelepípedos, uma série de serviços complementares, corrimões, barreiras. Vamos fazer, mas vai levar, no mínimo, mais dois ou três meses.”
Outro ponto questionado em relação a ponte na Garibaldina foi apontado por moradores. Eles comentam que, no local, muito entulho é jogado no leito do rio e, com o projeto feito para ponte, o
lixo poderá, ao acumular-se, obstruir a passagem de água e prejudicar a estrutura da obra. Questionado, Vignatti defendeu seu lado, afirmando que a Solaris seguiu o projeto desenvolvido pelo IPURB.
“Seguimos exatamente a orientação técnica da prefeitura. Até porque ela não diminuiu a altura, ela está, de um lado, da mesma altura que estava. Do outro, como a rua tem certa inclinação, o engenheiro da prefeitura esteve lá e disse para fazermos de acordo com o grade (sic), segue o nível da rua. (…) Quanto a vasão, aumentou, melhorou. Porque antes tinha um pontilhão de uns três metros, agora abrimos a vala e ficou com oito, nove metros ali. Ficou mais largo. Mas, claro, como é uma estrutura de concreto, tem ali uma viga, umas vigas reforçadas que desceram e desceu um pouco a altura, evidente. (…) Hoje tem mais vasão, de uma certa forma, antes a água podia passar por cima da ponte, hoje é muito mais difícil.”
Quando contestada sobre o mesmo ponto, a diretora do IPURB, Melissa Bertoletti Gauer, afirmou, através de nota da assessoria de imprensa que “Sobre acumulo de água, o instituto não recebeu reclamações e notificações sobre isso, mas como a obra ainda não está concluída é algo que se houver será solucionado.”
Outro ponto que causa estranheza para os mais atentos, é que a obra não expõe uma placa de licença ambiental em suas proximidades. O projeto da ponte, de fato, possui este documento obrigatório, contudo, não segue alguns pontos explícitos no mesmo. No item 3.6, está determinado que “não haverá supressão de vegetação”, contudo, quem for até o local, poderá ver que esta ação ocorreu. Conforme mostra a imagem ao lado, árvores e outras vegetações foram removidas para instalação da ponte.
Outro ponto, que está escrito em caixa alta e negrito no final do texto explicita que a “licença deverá estar disponível no local da atividade licenciada
para fins de fiscalização”. Esta norma não é atendida, uma vez que não existe no local a exposição da licença.
A obra que, originalmente custaria R$449.680,09, teve o valor destinado pelo então Deputado Federal Danrlei de Deus Hinterholz (que hoje ocupa o cargo de Secretário do Esporte do estado) e repassado através do Ministério do Turismo. Contudo, devido as altas nos preços de insumos, agora, o custo deverá ter um reequilíbrio de contas de um montante de até 70 mil reais. Essa verba, segundo Vignatti, será repassada pela prefeitura de Bento Gonçalves.
Os trabalhos agora ocorrerão para finalizar a parte estética da ponte, uma vez que a base está pronta.