A obra da Via Gastronomia em Bento Gonçalves chama a atenção de moradores e turistas desde o início dos trabalhos. Orçado em mais de R$5 milhões, o projeto avança desde maio deste ano e já soma desconfianças em virtude do que tem sido desenvolvido nesta área que é pensada para receber visitantes do perímetro urbano da Capital do Vinho. O Portal Leouve consultou um arquiteto para avaliar o que tem sido feito no bairro São Bento.
“Projeto de baixa qualidade se comparado com o nível de investimento público na obra” diz arquiteto sobre a obra
No mês de outubro o Portal Leouve expôs a falta de planejamento para que ônibus, caminhões e veículos grandes possam circular na via e ruas paralelas do bairro São Bento. Vários pontos apresentavam calçadas quebradas justamente por conta da falta de espaço para que veículos grandes possam fazer a conversão de uma rua à outra.
Após a primeira reportagem sobre a situação, em novembro um episódio ilustrou o que foi antes exposto. Um ônibus tentou acessar a rua Herny Hugo Dreher e, pela falta de raio de giro na esquina, não conseguiu completar a manobra. Para finalmente conseguir chegar na rua desejada, o motorista precisou passar por cima da calçada.
Trabalho avança, novos problemas surgem
Desde o episódio do ônibus que não conseguiu realizar a manobra, a obra seguiu conforme o cronograma. Desta forma, novos questionamentos surgiram acerca do desenvolvimento da Via Gastronômica. Ouvintes das rádios do Grupo RSCOM apontaram situações causadoras de estranheza e, por conta disso, a equipe de reportagem procurou um arquiteto para respostas técnicas.
Postes e iluminação
O profissional que preferiu não ter o nome divulgado, foi inicialmente questionado sobre os postes e lâmpadas que foram inseridas na obra. O posicionamento das estruturas parece não seguir um padrão de distância e, uma vez que todos usam lâmpadas da mesma potência, a duvida sobre a decisão surge.
São utilizadas lâmpadas LED de 50 watts nos postes. Todavia, no projeto que o Portal Leouve teve acesso, não constam informações detalhadas sobre a iluminação da via.
Ainda sim, o arquiteto afirma que vários fatores podem fazer com que a posição dos postes mude. “Fatores como entrada de garagens e faixas de pedestres também influenciam em deslocar alguma ou outra, mas fica ainda evidente que falta critério para a escolha e instalação dos postes nos pontos em que estão”
“Faltou apontar no projeto, pelo menos do que eu recebi, a potencia luminosa das luzes instaladas, já que sem um raio de iluminação as luzes decorativas são muitas em uma curta distância.
Se torna muito redundante, o que poderia ter sido feito com melhor qualidade levando em consideração essas variáveis, já que ficou muito estranho não só para quem entende da parte técnica, mas para quem é leigo também.”
Sobre a estrutura dos postes, o arquiteto também fez apontamentos. Segundo ele, “a qualidade dos postes instalados aparenta ser duvidosa, com uma aparência plástica e kitsch que denota um produto de baixa qualidade“.
Também visando o ponto de vista estético da via turística, a manutenção dos postes de energia e cabos de internet criam a aparência de um local de baixo investimento, fator que poderia ser diferente com todos estes fios sendo colocados como na Via Del Vino, de forma subterrânea.
“Os postes de energia continuam no projeto, mantendo-os no meio do passeio público em diversos trechos da nova calçada. Fica a aparência da falta de investimento nesse ponto.
Outros pontos
O profissional também frisou outros detalhes acerca do projeto da Via Gastronômica. “Alguns trechos de estacionamento não possuem espaço para o caroneiro sair do carro para a calçada sem se dar com o canteiro de jardim… Faltou pensar nesse detalhe”. Alguns pontos, segundo ele, podem ser melhorados conforme a arborização da via. “Alguns detalhes como visuais e como vai ficar fica difícil levar em conta já que a arborização do local ainda não foi feita, o que pode resolver alguns problemas de excesso visual como o dos postes decorativos, mas aí vai depender do andamento disso.”
Por fim, o profissional decretou como vê a Via Gastronômica até o momento “numa síntese um projeto, de baixa qualidade se comparado com o nível de investimento público na obra“. Uma arquiteta que também contribuiu com a reportagem descreveu a obra como “aterrorizante” caso permaneça como está.
O que diz a prefeitura?
Questionada acerca desta obra, a prefeitura de Bento Gonçalves afirma que o projeto foi trabalhado junto ao corpo técnico do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (IPURB) e o Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria.
Em relação aos veículos pesados e ônibus, ”desde o início foi previsto uma nova rota adequada para a conversão desses veículos de maior porte. Restringindo a Via Gastrô a priorização dos veículos de passeio e principalmente pedestres. Inclusive, a carga e descarga será feita em alguns pontos e horários nas vias adjacentes.”
O Poder Público afirma que o projeto elétrico de iluminação foi aprovado pela RGE, onde consta todas as especificações técnicas. ”A distância entre os postes buscou dar o melhor ritmo, considerando as peculiaridades existentes na via, tais como: entradas de garagens, acessos aos comércios, bocas de lobo, canteiros e demais elementos que existem. Esse ritmo considera também a arborização prevista no projeto”.
Ainda conforme a prefeitura, todos os itens estão descritos detalhadamente nos memoriais descritivos, planilha orçamentária que compõem o projeto. ”Os postes são metálicos e as tecnologias dos materiais podem ser consultadas nos memoriais descritivos, orçamento e projeto”.