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O tambor dos manifestoches

O tambor dos manifestoches

Bum bum paticumbum prugurundum. Não é mais um tiroteio na favela que corta a linha amarela. Não é o eleito Bolsonaro metralhando a Rocinha como prometeu fazer. Bum bum paticumbum prugurundum. Esse som não me sai da cabeça. E eu confesso que cheguei até a pensar que eram as panelas finalmente batendo indignadas com a vergonha da república das bananas.

Mas logo caí na real.

O barulho é dos pandeiros e tamborins do nosso samba, minha gente. É isso aí. A festa mais popular do país dos botocudos abre alas pra alegria e faz a vida parecer mais fácil nos quatro dias de folia.

Crise pra quê? 

Afinal, se a minha alegria atravessou o mar e ancorou na passarela num desembarque fascinante no maior show da terra, porque é que vamos perder tempo com a insistência do temeroso presidente em dar um ministério pra filha do bandido? Pra que sofrer com a reforma da previdência? Hoje o dia é da alegria; e a tristeza nem pode pensar em chegar.

Diga, espelho meu, há na avenida alguém mais alienado do que eu?

Mas então que tititi é esse que vem da Sapucaí? É a festa  que se esbalda como se tudo não fosse acabar em ressaca numa quartafeira, como se tudo fosse verde e rosa pra gringo festejar e pobre sonhar com a aposentadoria que tá por um fio.

Mas dessa vez um tambor soou diferente do ritmo único, e a avenida viu um presidente vampiro e manifestantes manipulados de verde e amarelo cantarem o carnaval do pato que se indigna com a corrupção de uns mas cala diante da bandalheira dos poderosos de plantão, desmascarando a apoteose dos corruptos que continuam roubando no poder, a violência que segue fazendo vítimas nas ruas, o desemprego que continua sem esperança.

Mas não me leve a mal, hoje é carnaval!

Como será o amanhã? Responda quem puder.

Porque hoje eu vou tomar um porre, e não me socorre que eu tô feliz. Afinal de contas, quem não gosta de samba bom sujeito não é, e atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu.