Não posso dizer que fui amigo íntimo ou que conhecia profundamente o senhor Moysés Luiz Michelon. Nem pretendo fazer uma biografia dele – aliás esta já foi executada com competência, com o título de “Tarde no Paiol” e ainda e sob sua rigorosa supervisão.
Mas quem, como eu, vivenciou significativa parte dos acontecimentos de Bento Gonçalves nas últimas três décadas e o entrevistou inúmeras vezes, deve se sentir habilitado a dizer que perdemos uma liderança inegável, um homem de visão, empreendedor, motivador. Daquelas figuras que inspiram pelo exemplo.
Ora, como não reconhecer a competência para erguer tijolo por tijolo uma indústria como a Isabela e no momento exato dela se desfazer por uma ato de inteligência? De inteligência e de coração, porque nenhum sócio perdeu com a venda e o nome Isabela está aí forte, revigorado. Moysés soube dar asas à sua mais famosa filha, entregou-a ao mundo.
De Fenavinho, de sua passagem pelo CIC como presidente e conselheiro, das festas da Vindima realizadas no hotel que passou a conduzir como “hobby” após a venda da indústria de massas, há pouco a acrescentar. Está tudo aí. Certamente quem conviveu mais próximo sabe que a cada dia havia uma nova história e um novo percalço a ser driblado com criatividade e vigor.
Michelon parte deixando não apenas o seu núcleo familiar, mas um séquito de fãs enlutado. Parte com duas frustrações ao menos: não ter visto a edição dos 50 anos da Fenavinho e a consciência de que não atingiria, como era seu desejo, a idade centenária. Mas, cá entre nós, nestes 83 anos viveu e realizou o equivalente a alguns séculos. Sem motivo para queixas.