Mão colhendo cerejas maduras e cerejas verdes de um galho de árvore.
Imagem: Freepik

Tudo na vida acaba, começando pela própria vida.

O perfume de pitanga, no pé ou no vidro,

O bife a milanesa saindo da frigideira pro prato,

O pudim de leite, a cerveja no freezer e a flor de açafrão que aparece uma vez por ano no pé,

Tudo acaba, ou morre.

Aquela música gingada, o filme cheio de reviravoltas, o livro que a gente não consegue parar de ler e a série que não teve a nova temporada renovada,

A sola do sapato que fura e a tira da sandália arrebentada,

A conversa cada vez mais escassa e a risada quase forçada, porque tudo acaba.

Uma construção, um curso, uma viagem,

A linha na bobina da máquina de costura, os dinossauros, o papel higiênico,

O primeiro beijo, a primeira vez, a paixão sem freios,

Acaba.

A ilusão, o mistério,

A beleza, a certeza, a pele perfeita e a bunda dura,

Um dia, é certo, acaba.

Os impérios, as relações comerciais, as perseguições,

Essas, se transformam, ou, às vezes, acabam.

O gás no meio do bolo assando, a gasolina do motorista distraído, o dinheiro na conta bancária,

O cigarro, o café com as amigas, o abraço apertado,

Piscou, já era, acabou.

A luz no meio de um temporal, a água potável e a internet na hora de enviar um arquivo importante,

Sempre acabam.

As águas limpas, a mata virgem e a vida selvagem, quando o homem chega perto, adivinha?

A expectativa pelo resultado de um exame, o tratamento e a angústia,

O luto, a tristeza, uma doença e a depressão,

Não acabam mas diminuem, só que às vezes não.

Um relacionamento, um parto, uma cura,

Podem acabar, ou podem ser um novo começo.

Depois de um tempo, as melancia se ajeitam na carroça andando e tudo vai pra algum lugar, seja as melancia que caem da carroça, as que se racham, as que apodrecem, ou as que chegam lindas e reluzentes na feira. O fato é que elas mudam de lugar, assim como a gente muda o tempo todo também.