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O cassetete contra o palavrão

O cassetete contra o palavrão

A força dos cassetetes da Guarda Municipal sobre os manifestantes desesperados com o despejo iminente, o spray de pimenta nos olhos dos moradores que pediam solidariedade e os gritos de homens descontrolados que deveriam proteger sem atacar não podem ser a nova imagem que sintetiza o governo de Daniel Guerra em Caxias.

Porque o que se viu ontem mais uma vez foi um governo em pé de guerra.

A truculência e a indisposição pro diálogo ficaram de novo marcadas no rosto dos manifestantes e nas palavras do senhor secretário de Segurança logo depois do confronto, o que comprovou a reação sem medida da guarda municipal, quando classificou como uma reação normal dos guardas às agressões verbais dos moradores do cinquentenário 2.

O cassetete contra o palavrão. O gás de pimenta contra o xingamento. Uma reação normal?

Se isso não for abuso, se isso não mostra que a ação da guarda foi sim truculenta e desproporcional àquela situação, então sinceramente não sei onde nós vamos parar.

Porque já é difícil aceitar que um governo não atenda seu povo como não houvesse nada a fazer por essa gente, mas não se pode admitir que o governo agrida cidadãos desarmados e desamparados.

E não importa se eles são invasores, não importa se a decisão da Justiça é irrevogável, não importa que ninguém tenha se mexido até hoje pra resolver essa situação e que todo mundo sabia que um dia isso ia acontecer.

Porque não dá pra simplesmente dizer pra essas pessoas que elas têm que entrar na fila da habitação popular e pegar lá a ficha seis mil e tantos e aguardar a boa vontade do governo ou a crise passar.

É claro que a decisão judicial precisa ser cumprida, e que a falta de uma politica pública de habitação é histórica na cidade, mas não dá pra simplesmente fechar as portas e dizer que não há o que fazer.

Um governo não pode fazer isso.

Porque é dever do governo, de qualquer governo, atender as necessidades de seus cidadãos, e porque, mesmo que não haja possibilidade de reverter essa decisão de desapropriação, é preciso sim encontrar alternativas, ou pelo menos, mostrar que está aberto ao diálogo e disposto a construir uma solução comum.

Porque o que não dá é pra agir apenas na letra fria da lei. Não dá pra aceitar que a participação do poder público se restringe apenas a executar um mandado expedido pela justiça.

Se for mesmo assim, cá pra nós, não foi só a guarda que abusou.