Bento Gonçalves

Nos 40 anos do Sitracom a palavra de ordem é resistir

Nos 40 anos do Sitracom a palavra de ordem é resistir
Fotos: Gerson Lenhard
O deoutado Dionilso Marcon prestigiou a s comemorações que tiveram a inauguração de mais 13 apartamentos no Centro de Lazer do Sitracom. à direita o presidente Itagiba Lopes

Resistência. Esta deve ter sido a palavra mais proferida hoje no Centro de Lazer do Sitracom, no município de Santa Tereza. Num evento para mais de 400 convidados, entre autoridades e associados, o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção e do Mobiliário comemorou a um só tempo o dia das Crianças, com a instalação de brinquedos infláveis, a entrega de 13 novos apartamentos que se juntarão aos 20 anteriormente existentes para que associados e familiares passem férias e finais de semana. Finalmente o motivo principal: comemorar os 40 anos da entidade.

Os festejos se dão num momento extremamente delicado para o movimento sindical brasileiro, diante das reformas da legislação trabalhista e a iminente queda da contribuição obrigatória de um dia de trabalho dos empregados ao seu sindicato. Ainda na quinta-feira, em palestra na sede do Sitracom, o senador Paulo Paim não economizou críticas às reformas pretendidas: “tudo de ruim gestado por Temer e seus assessores é consideravelmente piorado quando chega no Congresso Nacional”.

Mural destaca momentos importantes do Sindicato em 40 anos

Durante o cerimonial, que teve manifestações diversas, o presidente do Sindicato, Itagiba Soares Lopes lembrou que resistir é uma das qualidades da classe trabalhadora. Ele enumerou feitos do Sitracom em defesa da classe trabalhadora. Em 1982 o piso da categoria era o equivalente a U$ 82,00 e hoje é de U$ 465,00. Durante todo o extenso protocolo do evento, diretores do sindicato foram enumerando conquistas obtidas na negociação direta com o sindicato patronal, aquelas não previstas em lei. Entre elas o quinquênio de 5% sobre o salário normativo, a folga dobrada quando feriados caem em sábados, horas extras de 30%, adicional noturno de 30%, entre inúmeras outras.

Itagiba Lopes lembrou ainda outro episódio, devidamente retratado num quadro mural com a linha de tempo do Sitracom: a greve de 1987, onde a principal conquista foi o respeito da classe trabalhadora diante da patronal.

Conquistas em risco

Em nome da Intersindical, união dos sindicatos dos trabalhadores de Bento Gonçalves, o presidente do Sindicato dos trabalhadores na Indústria da Alimentação, Oclair Sanches chamou atenção para a tentativa de desmonte da organização sindical. “Colocam o papel dos sindicatos sob suspeição. Vamos ver como vai ficar a situação a partir de novembro, quando as reformas começam a entrar em vigor, e como será no futuro quando os trabalhadores não terão mais as garantias sempre defendidas pelos sindicatos”, advertiu.

O representante da Central Única dos Trabalhadores, Amarildo Cenci buscou inspiração no Rio das Antas, que banha o centro de lazer do Sindicato. “Eu soube que há alguns anos o rio subiu e destruiu boa parte desta linda sede. E o que se faz quando o rio sobe? Se elevam as pontes, se reforça a encosta. No movimento sindical vai ser assim. Querem nos tomar direitos, querem acabar ou reduzir significativamente nossa aposentadoria, Hoje bem ou mal, os velhos conseguem comprar seu remédio”. Ele lançou o desafio de um abaixo assinado que será feito em todo o Brasil, pedindo a anulação das reformas trabalhista e a ampliação da terceirização.

Já o Procurador do Ministério do Trabalho, Ricardo Garcia proferiu uma espécie de

Ricardo Garcia

aula magna, ao referir que o sistema sindicalista brasileiro é um dos melhores do mundo, por ser sustentado exclusivamente pelo trabalhador. “Na Alemanha, depende do orçamento público; nos Estados Unidos funciona como se fosse uma empresa. Os trabalhadores precisam ter uma voz na interlocução com o capital, com as empresas. Na Europa este papel está claro. O Sindicato é esta ferramenta social que promove o diálogo”.

E prossegue Ricardo Garcia: “No Brasil que saiu de um regime escravocrata, a classe dominante ainda tem na cabeça a escravidão. Não se dialoga, só se extirpa direitos. Então este é um novo, uma nova luta a ser liderada pelos sindicatos, não podemos voltar ao passado”, ressaltou Garcia.

Arcelo Rossini

Numa das últimas manifestações o diretor do Sindicato pelos últimos 36 anos, Arcelo Rossini se inflamou ao pronunciar quem ao contrário do conhecido adágio, capital e trabalho não andam juntos. “O capital não tem cor, nome ou país, defende apenas o lucro. Nós, ao contrário, defendemos valores humanos e espirituais”. Arcelo ainda conclamou trabalhadores a acreditarem no que sentenciou Mario Sérgio Cortella: é preciso acreditar que os cinco por cento de canalhas do Brasil não vencerão os outros 95%, é preciso ter esperança, finalizou.

Na tentativa de ainda reforçar o papel de ponta dos sindicatos, o presidente Itagiba Soares Lopes lembrou que apenas agora está sendo assinado o acordo coletivo de trabalho com o Sidmóveis. “Isto porque fomos persistentes. Não aceitamos um acordo antes que eles aceitassem nos devolver uma conquista de dez anos atrás e que nos foi retirada por ocasião da crise. A partir de 2018 voltaremos a ter a antecipação de 1% em agosto de 2018.Parece pouco, mas lá na frente, eta antecipação se reverte em praticamente oito por cento de ganho ao trabalhador”, justifica Lopes.

A comemoração dos 40 anos do Sitracom deve prosseguir durante o mês de outubro com palestras acerca das reformas previdenciária e trabalhista. E sempre alinhadas com o combate às propostas do governo Temer.

Além de presidentes de sindicatos de trabalhadores, estiveram presentes à festividade o prefeito de Santa Teresa, Gilnei Fior, o presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário do Estado, Haroldo Pinto de Souza e o deputado Federal Dionilso Marcon.